A lenda
grega nos conta de um personagem chamado Narciso, filho de um deus do rio com
uma ninfa, uma divindade mortal que habitava em lagos ou riachos. Reza a lenda
que ele era extremamente belo, mas não se apaixonava por ninguém. A pedido da ninfa
Eco, que era apaixonada por ele, Nêmesis (deusa da vingança) lançou uma maldição
sobre Narciso que, ao ver sua imagem refletida no lago, apaixonou-se por si mesmo,
a ponto de ficar ali, se olhando, se admirando, até morrer de fome e sede,
afundando no lago.
Não é necessário
ter uma leitura afiada para perceber que nossa geração é narcisista. As pessoas
se adoram. Seja por qual motivo for: realização pessoal, beleza física,
conquista, fama, aquisição financeira, compra de alguma posse de valor
extraordinário, etc. Pessoas se admiram até por seus defeitos! Nossa geração está
horrivelmente condenada ao afogamento em sua própria imagem.
Os escultores
gregos sempre representavam a imagem de suas lendas por meio de estátuas simétricas,
com um corpo escultural, musculatura definida, padrões de beleza estabelecidos
para a época, embora não fosse exatamente um modelo a ser perseguido, mas uma
mensagem de equilíbrio entre a mente e o corpo. Entretanto, havia sim, os
deuses ou semideuses da forma física, como Mirón, que até hoje é o símbolo da
Educação Física (aquela estátua em posição de lançamento de disco).
O culto ao
corpo, à escultura física, à beleza e à estética é hoje um dos principais
objetivos da nossa sociedade, o que se pode chamar de “fisiolatria”. Nunca as
academias estiveram tão cheias, nunca as pessoas se preocuparam tanto com sua
saúde física como atualmente. Juntamente a uma preocupação legítima, vem uma
idolatria ao físico, um culto ao corpo, à aparência, conforme ditada pelos padrões
da sociedade através de seus(as) modelos nas passarelas. As regras vão desde
aquilo que se deve ou não comer, até de que forma deve ficar sua estrutura abdominal!
Existem medidas em centímetros para que a pessoa tenha a forma ideal!
O pecado não
está, logicamente, na prática do exercício físico. O apóstolo Paulo diz que ele
tem pouco proveito, então deve ter sim algum proveito. A questão está na
idolatria que se faz de si mesmo, de seu corpo, de seu desempenho e também de
como vai exibir isto diante dos outros. Raramente alguém define seu corpo para não
o exibir! Haja vista a forma como se vestem os transeuntes em torno das
academias, indo ou voltando delas – suas roupas são inapropriadas (mas para
eles, exatamente apropriadas). A justificativa é para um melhor desempenho nos exercícios,
mas a realidade é um festival de luxúria e lascívia.
O mundo
vive assim, mesmo que não esteja se exercitando. Mas isso não é adequado para
cristãos. Não o se exercitar, mas essas duas coisas: o narcisismo com seu corpo
físico e a exibição do mesmo diante de terceiros. Cobiçar é pecado, mas
provocar a cobiça também é. E a forma de exibição do corpo assim como os “padrões”
sociais e fisiculturistas têm imposto, é lascivo, é provocativo e é pecado, não
importa se alguém cobiça ou não. Os cristão devem se vestir de modo apropriado
ao padrão de santidade e não ao padrão social. Alguém contesta dizendo: “Então
vamos para a academia de terno e gravata”? Essa é uma pergunta de alguém
insatisfeito com a doutrina bíblica. Não precisa de resposta.
Jesus disse
que olhar para alguém com interesse impuro é adultério no coração. Bem-aventurados
os limpos de coração, porque eles verão a Deus (Mt 5.8). Se um cristão pode
frequentar esses ambientes, fazer suas atividades sem se contaminar pelos olhos,
sem se idolatrar pelos resultados obtidos e sem se vestir de modo lascivo, então
não há nenhum empecilho para ele nessa prática. Mas se esse ambiente é propício
ao pecado, seja em qualquer de suas formas, desde o coração, olhos e prática,
então é melhor “decepar” sua mão direita, “arrancar” seu olho direito, disse
Jesus e entrar no reino aleijado (Mt 5.29,30). Fuja desse ambiente. O que não faltam
hoje são opções para se exercitar sozinho, em sua casa, inclusive com personals
trainers em vídeos na internet. Observe bem, isto se você tem fraqueza
pecaminosa. Mas não desafie o pecado dentro do seu coração. O pecado não é o
diabo, que você deve encarar e expulsar. O pecado é um gérmen que está em seu
coração, arraigado em sua velha natureza que você herdou de Adão desde que
nasceu. Não dê nutrientes a ele. Se nada disso te diz respeito, nada impede de
fazer seus treinos na academia.
Por fim,
como sempre, devemos seguir a norma máxima do cristão: fazer tudo para a
glória de Deus (1Co 10.31). Algumas pessoas acham inacreditável ou até impossível
fazer tudo, tudo mesmo, para a glória de Deus. Mas isso só acontece porque
nossos interesses estão marcados para nós mesmos (narcisismo). A alegação para muitos
cristãos justificarem o exercício físico é cuidar da saúde. Outros dizem que é
para melhorar o “templo do Espírito Santo” (que julgam ser seu corpo físico).
Mas
vejamos: o nosso corpo é templo do Espírito Santo, diz Paulo, num contexto em
que ele condena a prostituição (1Co 6.15-20). O Espírito habita totalmente na
igreja toda do mundo todo, não só em você. Outra coisa, onde há lascívia, não pode
haver o fruto do Espírito. Logo, essa justificativa não cola. Ainda mais, o
narcisismo é uma prática idolátrica que concorre com sua adoração a Deus. Assim,
o Espírito não pode estar nisso. Mas mesmo que você não tenha lascívia e nem
narcisismo, a justificativa de que está melhorando o seu corpo por causa do
Espírito Santo não é válida, porque o Espírito Santo não precisa de sua saúde para
habitar ou Se sentir melhor habitando em você. Seu corpo sarado não vai fazer o
Espírito Santo pensar que está agora morando numa mansão.
Sobre cuidar
da saúde, isso não é ruim. Paulo diz que há proveito nisso. Mas a pergunta é “para
quê”? Lembre-se de que você não pode alterar um só passo ao curso de sua vida
(Mt 6.27). Lembre-se também de que todos os seus dias já foram escritos no
livro de Deus (Sl 139.16). Suas páginas estão todas escritas e o livro de sua
vida já tem a capa final. Você não sabe em que página está, mas deve saber que
tudo já está marcado, inclusive a hora de você morrer. Não é a academia que vai
te livrar dessa hora, inclusive pode ser exatamente lá que isso irá ocorrer!
Portanto, a pergunta permanece: “Para quê”? Se tudo tem que ser para a glória
de Deus, então cuidar de sua saúde tem que ter um propósito que vise isso. Você
quer ter saúde para viver mais e melhor? Você usará sua saúde para pregar o
evangelho para mais pessoas? Você acha que vai viver mais e, por isso, irá
evangelizar mais? Vai servir mais no reino de Deus? Sua saúde será para se
afundar na obra do Senhor e realizar Sua vontade? Sua saúde será para você parar
de dar desculpas de não frequentar aos cultos? Para ser mais assíduo à comunhão
dos santos? Será para auxiliar seus irmãos doentes? Será para ter saúde para
viajar, fazer missões, proclamar a Palavra do Senhor? Ou... é porque você tem
medo de morrer doente? Não basta dizer: “É para minha saúde”. Sua saúde tem que
ser para a glória e o serviço a Deus! Falando bem a verdade, Deus prefere que você
gaste sua saúde no reino dEle a ver você saradão vivendo para si mesmo!
Para evitar
mal-entendidos, resumo da seguinte forma: não é pecado se exercitar. Também não
é pecado ficar sem fazer exercícios físicos. Entre um e outro, é melhor se
exercitar sim. Porém, se o exercício físico te leva à idolatria do corpo, à exibição
do mesmo, à cobiça e não à glória de Deus, então é pecado e precisa ser corrigido
ou banido de sua vida como cristão. Se você não consegue se livrar da lascívia e
da cobiça, mas precisa dos exercícios físicos para a glória de Deus, faça em
casa. Se não há problema com nenhum desses pecados, seu trânsito é livre para
academias e afins. Apenas não morra no lago (os espelhos das academias) se apaixonando
por si mesmo.
Día tes písteos.
Pr. Cleilson