“O Senhor é o meu pastor e nada me faltará” (Sl 23.1).
Este salmo é um dos textos mais confortantes de toda a Bíblia. É talvez o texto mais conhecido do Antigo Testamento, senão de toda a Bíblia também. De fato é um pequeno verso, porém revestido de um consolo tão imenso, que é impossível passar por ele sem perceber quase que palpavelmente o cuidado de Deus sobre nossas vidas. João Calvino pensava que este salmo foi composto em uma época próspera na vida de Davi e nos lembra que a maior parte dos homens quando se encontra em prosperidade, facilmente se esquece de Deus, enquanto este rei, ainda que sobejamente farto, encontrava descanso no Senhor e não nas coisas que dEle tinha recebido.
Este salmo também é vítima de alguns desleais pregadores de nossos dias. Este verso é contorcido para significar que Deus nos dará tudo o que desejamos. Nada mais longe da realidade. A começar pelo caráter de Deus que, como Pai que é de fato, de Quem toma o nome emprestado tudo que se entende por paternidade seja no céu ou sobre a terra (Ef 3.14,15), Ele jamais concede a Seus filhos os caprichos destes, senão que lhes concede aquilo que lhes é necessário e muitas vezes até com certas privações, a fim de que aprendam a viver na dependência dEle. Em segundo lugar também porque no texto hebraico, este verso não está dizendo isso, que Deus nos dará tudo o que queremos. Ele diz que, sendo o Senhor o meu Pastor, não sentirei falta de nada. Ele não está dizendo que nada irá faltar, apenas que não sentirá falta de nada, pelo fato de ser o Senhor o seu Pastor.
Talvez aqui esteja o maior problema dos crentes de hoje. Sentem falta de qualquer coisa que desejam ter e não têm. E apelam para o Senhor como Pastor, a fim de que lhes conceda o que seu coração insaciável deseja. Não sabem se satisfazer com a presença do Senhor como Pastor. Precisam adquirir como por uma compulsão maluca tudo que sua cobiça exige. Realmente não poderão jamais descobrir a satisfação de estar com o Senhor e ser assim completo. Não poderão porque sua satisfação está em coisas e não em relacionamentos.
Este salmo fala de relacionamento. Davi não diz Adonai é meu Pastor. Ele diz Yahweh é meu Pastor. Embora ambos os termos são traduzidos como Senhor em nossa Bíblia, geralmente Yahweh no AT é aplicado a relacionamento, à comunhão. E esta comunhão é algo tão pessoal, que Davi chama Deus de “meu” Pastor, um pronome possessivo na primeira pessoa do singular. Ele não diz que o Senhor é “nosso” Pastor, embora isto seja verdade. Mas ele fala do seu próprio relacionamento com Deus, algo bastante pessoal.
E quanto a nós? Será que nosso relacionamento com Jesus, o Bom Pastor, é de tal modo que não sentimos falta de nada, ainda que algo nos falte? Em 2Coríntios 11.27 e 12.10, o apóstolo Paulo testemunha que passou por necessidades, fome e sede. Ao contrário do que ouvimos hoje, que os servos de Deus não passam necessidades, o apóstolo Paulo passou e sabemos que muitos cristãos até hoje passam. Mas pergunte a eles se eles são como nós? Pergunte se eles reclamam do que lhes falta, ainda que seja o básico? Não, eles não reclamam! Estão bem ocupados com sua comunhão tão plena e cabal com Jesus, que não percebem que lhes falta alguma coisa! Agora nós... Será que temos Deus mesmo como nosso Pastor?
Día tes písteos.
Pr. Cleilson
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