“Todas as coisas me
são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não
me deixarei dominar por nenhuma delas” (1Co 6.12).
Geralmente este versículo é usado para realmente afirmar que todas as coisas são lícitas, embora nem todas convenham, como se Paulo estivesse dizendo que todas as coisas são lícitas. O termo grego aqui significa “permitido, lícito, possível, legal, correto”. Entretanto, não é isso que Paulo está dizendo. Vejamos o significado da construção desta frase do apóstolo.
Havia um recurso literário chamado “diatribe”, desenvolvido pelos gregos antigos, que era uma dissertação crítica que os filósofos faziam de alguma obra. No recurso diatríbico, o autor, antes de criticar o leitor ou oponente, elaborava uma frase como se viesse do seu leitor, o qual supostamente tentaria debater com o escritor e este, por sua vez, já colocava a resposta na própria frase.
Então, a primeira frase deste versículo, no recurso literário citado, seria dos coríntios. Eles diriam “todas as coisas me são lícitas”; e a próxima frase seria a resposta de Paulo: “mas nem todas convêm”. Eles diriam “todas as coisas me são lícitas” e Paulo responderia: “mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”. Na realidade, o apóstolo está rebatendo o ditado popular no qual os coríntios se firmavam para cometer seus pecados.
Vemos isso no próximo versículo: “Os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os alimentos; mas Deus destruirá tanto estes como aquele. Porém o corpo não é para a impureza, mas, para o Senhor, e o Senhor, para o corpo” (v. 13). Novamente, a primeira frase é dos coríntios e a resposta do apóstolo Paulo vem a seguir. Eles queriam dizer que não tinha nada a ver o pecado da prostituição, pois, como diz o ditado: “Os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os alimentos”. Em outras palavras, “estas coisas, Paulo”, diriam eles, “só afetam a matéria, só o corpo e não a parte espiritual”.
A resposta de Paulo é fatal: “Mas Deus destruirá tanto estes como aquele”! Ou seja, tanto o estômago como o corpo. Mas o corpo não é para a impureza, diz o apóstolo, e sim para o Senhor e o Senhor para o corpo! Em seu recurso de linguagem, aliás, bem conhecido dos coríntios, que eram gregos, Paulo destruiu todos os argumentos a favor da libertinagem. No v. 14, ele usa o argumento da ressurreição, dizendo que como Deus ressuscitou Cristo, ressuscitará também a nós, ou seja, nosso corpo tem valor sim, se não tivesse, nem Cristo nem nós seríamos ressuscitados!
Do v. 15 ao 20, Paulo então estabelece a doutrina. Ele destrói todo argumento falacioso dos coríntios com o recurso diatríbico e diz que nossos corpos são membros de Cristo e santuário do Espírito, não podendo ser feitos membros de meretriz. Nosso corpo foi comprado por um preço muito caro, o sangue de Cristo. A resposta final é: glorificai, pois, a Deus no vosso corpo!
Aprendemos, portanto, que nem tudo é lícito. Dizer que sim seria concordar com os coríntios. Nem tudo convém. Antes, as nossas ações precisam
ser medidas pelo padrão da glória de Deus para que encontrem legitimidade.
Día tes písteos.
Pr. Cleilson
Amém!
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