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Quando falamos sobre salvação de crianças, temos algumas
posições quanto a isso (estamos tratando aqui de pessoas que morrem na sua
infância): uma que diz que todas as crianças são salvas; outra que diz que
somente as crianças filhas de crentes é que são salvas e outra que afirma que somente
as crianças eleitas são salvas. Não há nenhuma teologia cristã que afirme que
todas as crianças são condenadas.
A esmagadora maioria dos arminianos crê que todas as
crianças são salvas. A maioria esmagadora dos calvinistas crê que somente as
crianças filhas de crentes são salvas. Há alguns calvinistas que creem como os
arminianos, que todas as pessoas que morrem na infância são salvas, pois,
segundo eles, é um sinal de eleição, a morte na infância. Eu sou do grupo que crê
que somente as crianças eleitas são salvas, independente se são ou não filhas
de crentes. Eu nego que morte na infância é sinal de eleição. Nego também que
todas as pessoas que morrem na infância são salvas. Também nego que todos os filhos de crentes sejam salvos só porque são filhos de crentes.
Contra a teoria arminiana e de alguns calvinistas que acham
que se morrer na infância significa salvação, eu me oponho, dizendo que isso
torna a infância um mérito salvífico. Reduzindo este pensamento ao absurdo – reductio
ad absurdum – assassinar crianças seria um método eficaz de salvá-las. Seria
preferível matá-las para garantir sua salvação, a deixá-las crescer e correr o
risco de se perderem eternamente! É óbvio que isso é o maior absurdo. Por outro
lado, me estranha muito notar que alguns calvinistas têm esse pensamento
meritório como os arminianos, de que se morrer na infância é uma prova da
eleição. Apenas se trocaram os termos. Para os arminianos, tais crianças não têm
pecado (ou, na melhor das hipóteses, não praticaram algum pecado) e para esses
calvinistas? A infância é mérito? Prova da sua eleição? Para mim, isso é apenas
trocar termos, mas o sentido meritório permanece, o que é antibíblico.
Filhos de crentes que morrem na infância são salvos? Repito: só se forem eleitos. Não tem essa de representação dos pais. Nosso representante ou é Adão ou Cristo. Você não pode incluir seu filho na aliança. Isaque teve dois filhos, ambos foram circuncidados, isto é, estavam fisicamente envolvidos na aliança, mas Deus já havia decidido rejeitar Esaú e nada havia que Isaque pudesse fazer a respeito. Seu filho só será salvo se Deus o eleger para a salvação, caso contrário, é representado por Adão e se não for representado por Cristo, é condenado. Cristãos pedobatistas podem até batizar seus filhos, mas se iludem a respeito de sua salvação, caso morram na infância. Podem ter sido salvos ou não. Se Deus as elegeu sim, caso contrário, o batismo não as salvará.
Eu creio na eleição incondicional. Ela é bíblica, pois não fomos
salvos por nada absolutamente que se ache em nós e sim, unicamente, no
beneplácito de Deus (Ef 1.5,9,11)! Paulo diz que “Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos
em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo” (Ef 2.4,5). Veja a
causa: “por causa do grande amor com que nos amou”. Não é porque Ele
tenha visto fé antecipada em nós. Caso fosse isso, teria sido um mérito
antecipado. Dizem os arminianos que fé não é mérito. Mas se ela vem do homem e por
isso é retribuída com a salvação, então é mérito sim. Mas se ela é um dom de
Deus, como a Bíblia afirma (Ef 2.8; Fp 1.29), então Ele dá a quem Ele quiser e
isto não é mérito e sim um ato de Sua bondade. Inclusive, Paulo diz que a fé não
é de todos (2Ts 3.2).
Sendo assim, se a eleição é incondicional e não depende da
fé, antes, depende da misericórdia de Deus, que Ele disse que dá a quem quer (Rm
9.18), então, crianças só serão salvas se forem alvo da eleição incondicional
divina. O argumento “imagine se Deus seria tão mau, a ponto de jogar crianças
inocentes no inferno” é emocionalista e antibíblico. Primeiro, porque o fato de Deus jogar alguém
no inferno não é ato de maldade e sim de justiça. Quantos pecaram? Poucos? Alguns?
Muitos? A Bíblia diz que foram TODOS (Rm 3.23)! Todos estão fora da glória de
Deus, inclusive crianças. Portanto não há inocentes neste mundo. Crianças são tão
afastadas da glória de Deus quanto qualquer adulto. Só é restaurado à glória de
Deus aquele a quem Deus quiser restaurar. Isso é ato de bondade. Os que Deus não
quiser restaurar e sim condenar, isso é ato de justiça e não de maldade. A questão
emocional não está em pauta aqui. Não adianta os defensores da salvação universal
infantil quererem mover o sentimentalismo de pais e mães que perderam filhos na
infância contra a doutrina da depravação total. Todo ser humano já nasce em
pecado (Sl 51.5) e devemos estranhar não que Deus venha condená-lo, mas sim, caso Deus o salve. No caso de crianças, ainda paira um mistério, pois não sabemos
quais delas foram escolhidas para a salvação. Só saberemos quando lá chegarmos. Adultos também, mas estes, pelo menos mostram algum fruto durante sua vida.
Algumas crianças, no ventre de sua mãe, foram escolhidas por Deus,
como Jeremias (Jr 1.5 – “conhecer” aqui não é saber quem é e sim ter um
relacionamento íntimo); João Batista (Lc 1.39-45), que foi cheio do Espírito Santo,
ele e sua mãe, ao receber a visita de Maria que estava grávida do embrião de
Jesus; e Paulo, que foi chamado por Deus desde o ventre de sua mãe (Gl
1.15,16). Mas também temos o exemplo de uma criança que foi rejeitada por Deus
desde o ventre de sua mãe também, como é o caso de Esaú (Ml 1.2,3; Rm 9.10-13).
As pessoas ficam enraivecidas com esse texto e querem trazer outra explicação
diferente da que Paulo dá. Já disseram que a palavra “aborrecer” ou “rejeitar”
significa “amar menos”, mas isso em Deus não seria acepção? Deus amou menos a
ponto de quê? O texto deixa claro que foi a ponto de rejeitar. Amou menos a
ponto de não salvá-lo? Que amor é esse? A ACF diz que Deus “odiou” Esaú. E Paulo
diz que isso (Deus amar um e odiar o outro) aconteceu antes de eles nascerem ou
sequer de praticarem o bem ou o mal. Isto é, não foi o bem que Jacó fez (Jacó
fez algum bem?) que levou Deus a escolhê-lo nem foi o mal que Esaú fez (Jacó
era tão mau quanto seu irmão) que levou Deus a rejeitá-lo e sim, diz Paulo, “para
que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das
obras, mas por aquele que chama” (Rm 9.11). Outra coisa, Paulo não diz que Deus amou um rejeitou o outro porque sabia que um deles ia fazer o bem e o outro o mal, até porque nenhum dos dois fez o bem, mas Paulo diz que foi por causa da eleição! “Ah, mas Esaú era fornicário e
profano” (Hb 12.16). Muito bem. Mas ele foi rejeitado por Deus porque era
fornicário e profano, ou se tornou um fornicário e profano porque já havia sido
rejeitado por Deus? Jacó também foi profano, pois aceitou participar do engodo
de sua mãe contra seu pai, velho e cego. Mas Deus o havia escolhido antes de fazer
o bem ou o mal. Portanto, chegaria o momento em que Deus trocaria o coração
deste profano em um coração convertido, não porque Jacó tenha feito algo bom,
mas porque Deus já o havia escolhido.
Se, por condenar crianças, Deus for injusto, e na Bíblia há pelo
menos um caso de criança rejeitada por Deus desde o ventre, mesmo se fosse um
caso isolado, então Ele já seria injusto em um só caso. Mas eu nego que Deus
seja injusto e afirmo que Esaú foi rejeitado antes de nascer. Deus disse que
Ele Se compadece de quem Ele quer e endurece a quem Ele quer (Rm 9.18). Tudo
que Deus faz é bom. Portanto, não importa o que as pessoas acham. Deus não pede a opinião de ninguém. Ele ama a quem Ele quiser e odeia a quem Ele quiser. Se alguém
fica horrorizado com isso ou não, é irrelevante. Não adianta tentar blasfemar e
culpar Deus de maldade, pois o ódio de Deus é tão santo quanto Seu amor. Deus odeia
alguém sem com isso pecar. Deus não é como nós, que somos movidos por pecado quando
odiamos. Deus odeia de forma santa e ama de forma santa. Então, quando Deus ama
alguém, isso é bom, porque quem está amando é Deus. E quando Deus odeia alguém,
isso é bom, porque quem está odiando é Deus. Ele nada faz errado e tudo que Ele
faz está de acordo com Sua santidade, prazer e vontade.
Ou você pensa que as crianças condenadas no Egito pela
décima praga foram todas salvas? Agora vem com aquela ideia “ah, mas tem que
ver se elas já estavam na fase de consciência”! Então você é adepto da teoria
de John Locke? Que as pessoas não têm pecado, são tábulas rasas, exceto quando são
contaminadas pela sociedade? Por que você acha que um homem já adulto não mantém sua consciência
pura? Paulo diz que ele olha para a criação e sabe que Deus existe, mas seu
pecado, sua injustiça, abafa o grito de sua consciência e assim, ele não dá
glória a Deus (Rm 1.21). Davi disse que nasce o ímpio e já se desencaminha (Sl
58.3). Não tem essa de inocência. A criança pode ser ingênua, mas não inocente.
Deus faz vasos para condenação e para salvação. E Ele faz do
mesmo barro. Não diz que é do barro mau. Veja que até mesmo os eleitos nascem
debaixo da ira de Deus (Ef 2.3). Ou seja, Deus faz com que todos nasçam debaixo
do pecado, para então, usar de misericórdia para com os Seus escolhidos. Deus
colocou Adão como representante de todos os que nascem fisicamente e colocou
Cristo como representante de todos os que nascem espiritualmente. Se os que
nascem fisicamente estão espiritualmente mortos, logo, Ele ressuscita a quem
quer (Jo 5.21). Por isso é necessário nascer de novo (Jo 3.3), caso contrário, ficará
fora do reino de Deus.
Sendo assim, pessoas que morrem na infância só serão salvas
se forem eleitas de Deus. Desde que foram geradas em sua mãe, naturalmente são representadas
por Adão e, portanto, filhas da morte. Mas se aprouver a Deus que Cristo as represente,
então elas serão salvas, sem mérito algum, nem por obra alguma, mas única e exclusivamente
pela graça de Deus!
Día tes písteos.
Pr. Cleilson