Muita gente pergunta se Adão tinha livre-arbítrio. Isso depende do que você entende que é livre-arbítrio. Se for a livre escolha sem a influência do pecado, então sim. Mas se for a livre escolha libertária, livre de qualquer influência, então não. Adão realmente não estava sob a influência do pecado, assim como todos nós já nascemos. Neste aspecto, ele era mais livre do que nós. Afinal, era nosso representante. Não deveria mesmo estar influenciado pelo pecado. Entretanto, Adão não era livre completamente. Adão não era livre de tudo absolutamente. Embora livre do pecado, ele não era livre de Deus. Ele não era livre dos decretos de Deus. Adão não foi impulsionado por uma natureza pecaminosa como nós, porque ele não tinha essa natureza. Mas ele foi impulsionado pelos decretos eternos de Deus e disso ele não tinha como fugir.
A escolha de Adão foi voluntária, mas foi escrita por Deus desde a eternidade. A escolha de Adão foi voluntária porque não havia ninguém o coagindo a fazer o que fez. Mas ele fez voluntariamente aquilo que Deus havia soberanamente preordenado. Isso é assim porque todas as coisas acontecem pelo fato de Deus tê-las designado de antemão. Deus não sabe só o que ocorrerá no futuro, mas o futuro ocorrerá porque Deus o ordenou antecipadamente. Os que querem limitar a soberania em prol da onisciência, isto é, quem acha que Deus só sabe o futuro, mas que não o decretou, então tem que responder à pergunta: na eternidade havia futuro? Se o futuro, tal como o passado e o presente, só existe no tempo (e na eternidade o tempo ainda não havia sido criado), segue-se que o futuro só vem à existência a partir do instante em que Deus cria o tempo. Quando Deus cria o tempo, Ele não cria um cronômetro e deixa as coisas rolarem. Isso, além de ser deísmo, ainda desconsidera que o tempo completo não é só o presente. Ele é composto de passado e futuro também! Se Deus criasse um relógio para Sua criação e deixasse o tempo correr, Ele não teria conhecimento do que aconteceria depois. Deus criou o passado, presente e futuro quando criou o tempo, portanto, Deus conhece o futuro porque foi Ele quem o criou.
Adão era preso a este decreto, portanto, não era livre totalmente. Ele não era livre de Deus! A pergunta que as pessoas fazem é confusa. Elas perguntam: se Deus decretou, então Ele não é o responsável pelo pecado? Também depende do que você quer dizer com “responsável”. Se por “responsável” você está dizendo que Deus é o provocador, o criador, o que trouxe à existência, então sim. Ele é o que trouxe todas as coisas à existência, inclusive o mal. Mas se por “responsável” você está insinuando que, se for assim, Deus é mau e pecador, responsabilizado diante de alguém para prestar esclarecimentos e ser julgado, então não. Agora você está sendo panteísta. Está misturando Deus com Sua criação. Deus é distinto daquilo que Ele criou. Deus criou uma árvore, mas Ele não é uma árvore. Deus criou um jumento, mas Ele não é um jumento. Deus criou o mal, mas Ele não é mau. Deus é autor de tudo, mas não é servo de Sua criação nem julgado por ninguém. Para Deus ser levado a qualquer tribunal, primeiramente deveria existir alguém maior do que Ele para que Ele viesse lhe prestar contas. Em segundo lugar, para Deus ser responsabilizado por quebrar alguma lei, deveria haver alguma lei O proibindo de fazer algo e então Ele fizesse. Visto que não há nenhuma lei que proíba Deus de fazer o que quer que seja (nem feita por alguém, pois esse alguém seria superior a Ele e, portanto, não existe, ou feita por Ele mesmo – e Deus jamais fez alguma lei proibindo a Si mesmo de qualquer coisa), então tudo o que Deus faz é bom por natureza, visto que quem faz é Deus e tudo o que Ele faz é bom, sendo bom porque Ele determina que é bom, visto que a bondade é inerente a Deus. Para nosso exemplo, se Deus tivesse feito alguma lei proibindo a Si mesmo de criar o mal e então Ele a quebrasse, criando o mal, então Deus estaria Se contradizendo, o que O declararia como falso e infiel. Mas não há tal lei. Portanto, tudo o que Deus faz é aprovado por Ele mesmo e, consequentemente, bom. Deus criar o mal é diferente de Deus praticar o mal. Praticar o mal é impossível para Deus, uma vez que tudo o que Ele faz é sempre bom.
Já a criatura, quando ela peca contra Deus, ela está quebrando um mandamento e, portanto, é responsável pelo seu pecado. É a responsabilidade moral do ser criado. Responsabilidade moral da criatura não deve ser confundida com decreto soberano do Criador. No decreto de Deus, Ele estabeleceu que o homem iria pecar e que o homem seria responsável por isso, deveria responder diante dEle. Então, Ele criou o homem e Lhe deu Seu mandamento. A partir do momento em que um mandamento é dado a um subordinado, ele já se torna responsável diante de sua autoridade. Isso não pode ser questionado sob o pretexto dos decretos, visto que o homem não é convidado por Deus para participar de Seus planos. Deus o coloca em Seus planos e lhe dá uma lei. É debaixo desta lei que o homem está obrigado diante de Deus a responder por desobediência. Quando alguém contesta sobre isso, dizendo que o homem não pode fazer algo diferente do que foi decretado, isso não tem ligação com sua responsabilidade. Se ele pode ou não pode, isso é irrelevante. Ele é responsável porque Deus decretou que ele fosse responsável e que o homem tem que responder diante dEle. Responsabilidade tem a ver com autoridade e não com liberdade. Eu poderia também perguntar, se fosse o caso, para os libertarianos: por que o homem veio à existência sem pedir para vir? Por que Deus daria algum livre-arbítrio para o homem, sendo que o homem sequer pediu para existir e ainda ter que escolher alguma coisa? Por que Deus trouxe o homem à existência sem seu consentimento e ainda lhe deu regras e caso ele não as cumpra, terá que sofrer castigo por uma coisa que ele nem pediu? Por que Deus não interfere na vontade humana, sabendo que o homem só escolherá o que é ruim? Se Deus trouxe à existência o homem sem pedir permissão ou sem contar com o livre-arbítrio deste, por que seria obrigado a depender do livre-arbítrio dele depois de criado? Essas perguntas não têm resposta do ponto de vista do livre-arbítrio. A resposta para isso só se encontra na soberania de Deus! Deus trouxe o homem à existência porque Ele quis. Deus torna o homem responsável diante de Suas leis e, caso ele não as obedeça, terá que responder diante de Deus, porque Deus o responsabilizou. Deus fez alguns homens para neles manifestar a Sua glória e outros para neles revelar Sua ira. É o que a Bíblia diz. E se Deus fez isso (e a Bíblia diz que fez), então é isso que é bom, não importa o que as pessoas pensem. Quando Deus mandou Abraão matar Isaque, isso era o certo a se fazer e seria pecado se Abraão tentasse burlar este mandamento. E sua ação de matar seu filho não seria assassinato nem pecado, visto que quem mandou foi Deus, portanto, isso se torna lei, obrigação, dever, e pecado é não cumprir. Abraão sabia disso e foi lá executar o jovem. Porém, no momento da execução, Deus interfere e diz que não é mais para matá-lo. Pronto! Agora será pecado se ele o matar! Ele se torna obrigado a não matar seu filho e se ele continuasse, seria um assassino e teria que responder por isso diante de Deus, pois a lei agora foi mudada pelo próprio legislador, que diz para não matar! Deus é soberano e o que Ele diz é que é o certo a se fazer.
Adão foi proibido comer do fruto daquela árvore do conhecimento do bem e do mal pelo preceito de Deus. Mas se Deus o ordenasse em qualquer ponto de sua vida a comer, então ele poderia comer, que não seria mais pecado. Mas enquanto a proibição estiver de pé, então é proibido. Será pecado quebrar esta proibição. O homem está responsabilizado pela ordem de Deus e não deve apelar para a soberania de Deus para justificar seu pecado. O decreto de Deus é uma coisa, o preceito de Deus é outra. No decreto, Ele já estabeleceu o que Ele quis, inclusive nossos erros e a condenação de muitos. Nos preceitos, Deus revela nosso dever moral diante dEle e é por este dever que estamos responsabilizados. Tudo vai acontecer conforme Seus decretos, mas isso é irrelevante para o homem e não pode usar os decretos como pretexto de justificação de seus pecados, visto que Deus o responsabilizou, revelando a ele Sua vontade, portanto, ele já está responsabilizado. Adão era livre de uma natureza pecaminosa, mas não era livre dos decretos de Deus, mesmo assim, isso não tira sua responsabilidade, porque Deus o responsabilizou. Se Deus responsabilizou Adão, isso é o que ele é – responsável por suas ações. Deus decretou que ele iria cair voluntariamente e também decretou que seria responsabilizado por desobedecê-lo. Deus deu a Adão seu preceito, então Adão desobedeceu por vontade própria e foi responsabilizado por Deus.
Mas Deus também predestinou
a Cristo para ser o Cordeiro morto desde a fundação do mundo (Ap 13.8)! Como
Deus já havia decretado a Queda e também já havia decretado que Seus eleitos
seriam resgatados, então, Cristo foi decretado como Aquele que nos
representaria diante de Deus em justiça. Adão não podia não pecar. Ele era
nosso representante na Queda e não na justiça. Cristo é nosso representante na
justiça, por isso, Ele teria que vir, não cair e nos resgatar de nossos pecados, que
recebemos no legado de Adão. Assim como Adão não podia não pecar, Cristo não podia pecar! Se Adão pudesse não pecar, ele poderia ser nosso representante
na justiça, então Cristo não precisaria vir. E se Cristo pudesse pecar, então não precisaríamos dEle como nosso representante, visto que já tínhamos um em pecado. Mas Cristo tinha que vir sem pecado, logo,
Adão tinha que pecar. Ele não era livre e ao mesmo tempo era responsável. Responsabilidade
não presume liberdade. Responsabilidade presume autoridade. Deus era autoridade
sobre Adão e este era responsável diante de Deus. O Criador decretou a queda do
homem, mas não o coagiu a cair. O homem caiu por sua própria vontade, quebrando o preceito de Deus e isso porque nada pode fugir dos decretos do Criador. Assim, o homem é responsável e
Deus é soberano!
Soli Deo gloria.
Pr. Cleilson
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