“Ora, estes de Bereia
eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a
avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de
fato, assim” (At 17.11).
Muito tem se elogiado o comportamento dos crentes de Bereia, pelo fato de conferirem nas Escrituras o que Paulo dizia. Somos recomendados a sermos como os bereanos, sempre examinando na Palavra o que ouvimos nas pregações e, assim, seremos considerados crentes prudentes.
No entanto, precisamos observar algumas coisas. Primeiro, os bereanos que faziam isso não eram cristãos e sim judeus. O v. que lemos diz: “estes de Bereia”. Estes quem? Basta ler o v. anterior: “... os irmãos enviaram Paulo e Silas para Bereia; ali chegados, dirigiram-se à sinagoga dos judeus” (v. 10). Como Paulo e Silas foram perseguidos pelos judeus tessalonicenses, então os cristãos dali os enviaram a Bereia para pouparem sua vida. Como era estratégia de Paulo, ele foi à sinagoga para pregar o evangelho.
Segundo, o texto diz que eles eram mais nobres do que os judeus de Tessalônica. A palavra nobre aqui (gr. _eugenēs_) significa literalmente: “de bom nascimento”. No grego, eu é bom e genēs é nascido, “bem nascido”. Isso quer dizer apenas que eles eram mais abastados financeiramente. Eram pessoas mais ricas e não mais corteses.
Observe que o texto diz que eles examinavam as Escrituras “todos os dias”. Um judeu de condições normais não tinha como examinar as Escrituras todos os dias, pois o material, o pergaminho, era caro e a maioria só podia ouvir as Escrituras uma vez por semana na sinagoga. Se os bereanos examinavam todos os dias, é porque eles tinham pergaminhos do AT em casa, o que prova que eram realmente mais abastados do que os judeus de Tessalônica.
Terceiro, que o verbo para examinar é anakrinō. Significa “investigar, questionar, julgar”, verbo usado para inquirições em tribunal. Ainda Lucas diz que eles queriam ver “se” as coisas eram mesmo assim. Aparentemente, essa avidez (resolução) com a qual eles receberam a palavra (os ditos) de Paulo, estava mais relacionada a uma suspeita do que a uma prudência. Afinal eram judeus e não aceitavam que o Jesus anunciado era o Messias. Veja quem foram os que creram no v. 12: “muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição e não poucos homens”. Os judeus mesmo, se juntaram com os de Tessalônica para perseguirem Paulo (v. 13).
Alguns exaltam os bereanos, dizendo que de tão “examinadores” que eram, não há nenhuma carta de Paulo a eles, enquanto que aos tessalonicenses tem duas. Mas veja o que Paulo diz aos tessalonicenses: “Outra razão ainda temos nós para... dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual... está operando eficazmente em vós...” (1Ts 2.13).
Pelas palavras do próprio apóstolo, os elogiados aqui são os
crentes tessalonicenses e não os bereanos incrédulos. Bem, parece que agora
quero ser um tessalonicense e não um bereano.
Día tes písteos.
Pr. Cleilson
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