Por: Pr. Wellington Miguel
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle, e sem Ele, nada do que foi feito se fez.” – Jo 1.1-3
Antes a terra, estava sem forma e vazia, e havia trevas – Gn 1.2. Toda a natureza criada só veio a existir porque o “Verbo falou”!
Sem o verbo, sem a palavra, sem o diálogo, tudo em nossos relacionamentos fica sem forma, vazio e em trevas. Ninguém se entende, os propósitos ficam obscuros (confusos), não se constrói nada, não se gera nada, não há luz nem direção, não há alegria, nem parceria, nada fica bom e nem muito bom.
Antes da presença do pecado no mundo a palavra era instrumento exclusivo para trazer vida, comunicar vida, transmitir vida. Após a entrada do pecado no mundo através do homem, a palavra também foi sendo usada para promover o inverso daquilo para o qual fora criada. Agora o pecado usa a palavra para tornar as coisas em trevas, sem forma e vazia. A palavra mal utilizada promove esvaziamento de sonhos, de motivações, de forças provocando deformações nos relacionamentos.
A palavra tem poder. O propósito da palavra desde a criação do mundo foi construir, organizar e trazer vida. A palavra existe para comunicar vida. Em 1Jo 1.1 Jesus é chamado de o Verbo (ou Palavra) da vida. Veja, Jesus é o Verbo da vida e não da morte. Jesus comunicava vida. Até a Sua morte traz vida aos que creem.
Jesus é o Verbo de Deus. Ele é a Palavra. Quando Ele falou, o caos se organizou. Quando o Verbo falou, a primeira coisa que surgiu foi a luz Gn 1.3,4. A luz trouxe claridade, compreensão, possibilidade de se ver melhor a situação e, a partir daí, a melhor condição para começar a ordenar as coisas. Colocar tudo no seu devido lugar. Dialogar é lançar luz no problema que quer permanecer obscuro (confuso), sem nenhuma solução. O diálogo expõe o problema, a ferida, o aborrecimento, a insatisfação, o desgosto. E a finalidade não é piorar as coisas, mas dialogar de maneira inteligente e sábia a fim de ordená-las, resolvê-las de maneira construtiva e não destrutiva, encontrando caminhos de solução e cura para que haja restauração da relação que não pode ser interrompida.
A opção pelo silêncio mediante um conflito pode não ser a melhor postura, pois o silêncio pode representar indiferença, falsa paz, fuga da confrontação das ideias, enfim, o silêncio pode representar trevas.
Em 1Jo 1.7 João diz que se andarmos na luz como Deus na luz está, mantemos comunhão. Veja que devemos andar. Andar indica ação, movimento constante. É um movimento na luz. É um modo de ser. Esse andar na luz mantém (sustenta, conserva, cultiva) a comunhão (relacionamento). Lembramos que luz é diálogo compreensivo, é o diálogo que busca entender, respeitar, acolher, compadecer e curar. Que se conclui? Se andarmos no diálogo compreensivo, conservaremos o relacionamento.
O mais importante ainda está por vir. Ainda em 1 Jo 1.7 diz que o sangue de Jesus nos purifica de todo o pecado. O que isso quer dizer? Quer dizer que, no diálogo compreensivo, as pessoas num relacionamento conseguem liberar o perdão um para o outro e, se assim o fazem, eles também recebem o perdão de Deus – Mt 6.14,15. Os íntimos que não se perdoam também não recebem o perdão de Deus.
Andar na luz é expor o problema, o pecado, o erro, não para o apontamento, julgamento e condenação, mas para a libertação, cura, renovação, reconciliação e alegria.
O problema dos nossos problemas é a maneira como lidamos com o problema. Augusto Cury diz que “em muitas ocasiões o problema do doente não é a doença do doente, mas o próprio doente”, o problema do doente é a maneira como ele lida com a doença. Ciro Lima e Iara Diniz no seu livro “Edificando um novo Lar” afirmam que “os conflitos são desafios para um crescimento a dois”.
O diálogo precisa ser um trânsito livre e uma pista de mão-dupla. Andar na luz significa liberdade para falar e saber que serei ouvido, compreendido, aceito. Em alguns momentos de diálogo entre um casal, um mal começou a falar, o outro imediatamente interrompe como se já soubesse o que vai ser falado. Isso reprime, desrespeita e priva o outro do seu direito. O direito de expressão (confissão). Talvez o outro não vai ouvir porque tem medo de ser denunciado. Qual é o problema? Ninguém nasceu pronto para a vida. O diálogo é a oportunidade de me conhecer através do o outro.
No diálogo, o outro se torna um espelho. Ele começa a dizer como estou, como sou, como falo, como me comporto. E aquilo começa a incomodar. Ótimo! Ótimo? É ótimo! Você está se conhecendo. Você é exatamente o que ele ou ela está dizendo. O diálogo é maravilhoso. Ele é libertador. A liberdade está no conhecimento de mim mesmo a partir do outro. E então? Então, continue ouvindo! Porém o espelho não tem só a função de demonstrar o que está desagradando. O espelho também mostra o que melhorou.
O diálogo é também uma ótima maneira de celebrar e comemorar. O diálogo celebra as melhoras, as mudanças, o crescimento, ainda que sejam pequenos. O diálogo faz festa sem gastar um centavo, alegra mais do que o vinho e sustenta mais do que o alimento festivo.
Como disse, o diálogo precisa ser um trânsito livre. Não congestione, deixe o outro falar, ouça, observe, pense, ore no seu espírito, reconheça, por mais simples que seja o que se fala, pois nenhuma ideia que está sendo expressa em palavras é inútil. O que está sendo falado tem fundamento, tem uma razão. Até um louco quando fala, ele tem uma razão, um “porquê” interessante e que merece atenção, não despreze nenhum pensamento, nenhuma fala. Depois de ouvir tudo o que foi dito e, depois de ter valorizado, agora é a hora da pista de mão-dupla. Pois, por outro lado, tem gente que só quer falar, e o pior, quer ter a razão em tudo. A pista de mão-dupla quer dizer que vou falar, mas também vou ouvir. Então se prepare. Prepare-se, pois, talvez você não receberá aprovação em tudo o que foi falado, mas ouça, observe, pense, ore no espírito, reconheça. Afinal de contas estamos aprendendo. Diálogo é isso: ser pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar –Tg 1.19. Esse é o caminho para a maturidade do diálogo nos relacionamentos.
Há poder em suas palavras, poder para trazer à existência o que não existe, poder para fazer renascer sonhos, poder de valorizar o que está desvalorizado, poder para declarar a cura, poder para abrir os olhos, os ouvidos e a mente, poder de libertar, poder de fazer coisas que nem mesmo aquele que fala pode imaginar. Então, fale, dialogue, edifique, construa, organize e desfrute.
“A língua tem poder sobre a vida e sobre a morte; os que gostam de usá-la comerão do seu fruto” - Pv 18.21
Soli Deo Gloria
Pr. Wellington Miguel
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Pr. Wellington Miguel é pastor na IMVC da cidade de Esmeraldas/MG e pós-graduado em Teologia na área de Aconselhamento |