Quando Jesus disse: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (Jo 8.32), Ele estava completando uma frase que pronunciara anteriormente a esta. Diz no v. 31: "Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nEle: 'Se vós permanecerdes nas minhas palavras, sois verdadeiramente meus discípulos'". Daí é que se completa com o v. 32. A conjunção "e" antes de "conhecereis a verdade" é aditiva, ela adiciona uma ideia que completa a frase anterior. Neste caso, podemos retroceder o versículo da seguinte forma:
São libertos os que conhecem a verdade; conhecem a verdade os que são discípulos de Jesus; são discípulos de Jesus os que permanecem em Sua Palavra; permanecem em Sua Palavra os que creem nEle.
Fica claro, portanto, que não é apenas conhecer a verdade o que está em questão. Tudo começa pela fé em Cristo. Os que creem em Cristo, por sua vez, devem permanecer em Suas Palavras. Só assim darão fruto, como Jesus mesmo disse em João 15.4: não podemos dar fruto se não permanecermos nEle. Somente os que permanecem na Palavra é que são discípulos verdadeiros de Jesus. Ainda em João 15.8, o Senhor corrobora este ensino, quando diz: "Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos". Então os discípulos verdadeiros conhecerão a verdade, a qual os libertará! Este é o processo. Claro que se formos juntar outras passagens bíblicas, mais além ainda iremos, pois a fé vem pelo ouvir, então para crer é preciso ouvir o Evangelho e para ouvi-lo é preciso que alguém pregue e para que alguém pregue é preciso que seja enviado... (Rm 10.14,15).
Mas fiquemos com o texto de João 8. Alguma parcela da multidão evangélica tem sido escrava ainda de sua ignorância. E parece gostar disso. Pessoas creem num Jesus mostrado por um evangelho estranho ao evangelho dos apóstolos de nosso Senhor. Os pregadores deste evangelho não se enquadram no perfil dos pregadores bíblicos e nem reproduzem mensagens bíblicas, e ainda não aceitam que alguém os questione. Com sua habilidade no falar, levam multidões a seguir seus ensinos distorcidos, enquanto fingem humildade ao dizerem que estão sendo perseguidos porque alguém quer lhes denunciar. E o povo acredita naquele teatro todo. Levanta-se para defender seus pobres coitados "pastores" e "apóstolos".
O fato de alguém acreditar na pregação do Evangelho não torna tal pessoa liberta. É preciso mais que acreditar, é preciso permanecer, é preciso ser discípulo, seguidor de Jesus, é preciso conhecer (ter um relacionamento íntimo com) a verdade, para que haja libertação. Muitos que acreditam no que ouvem estão na igreja, participam dos cultos, dão suas ofertas e dízimos, são batizados e até ceiam na igreja, mas ainda são prisioneiros da ignorância. Inclusive, uma das características destes pregadores é ocultar a verdade, justamente para que continue sendo fácil manipular a multidão. Não se vê nesses lugares estudo bíblico, ensino forte da Palavra, pregações concentradas na Bíblia, pois não é o propósito dos falsos que seus seguidores tenham conhecimento, pois sabem que o conhecimento liberta. Aliás, Pedro mesmo diz que eles oferecem liberdade, enquanto são escravos da corrupção (2Pe 2.19). Uma certa ocasião perguntei a um destes pastores por que na sua igreja não tinha estudo bíblico. Ele me respondeu que o povo não gosta disso. Se ele colocar um dia de estudo em sua igreja, o povo não vai. Porque está acostumado a correr em busca de bênçãos, campanhas, profecias, curas, etc. Fiquei entristecido, pois a culpa não é só dos líderes, mas o próprio povo mostra onde está seu interesse!
Enquanto isso, essa parcela da multidão vive no sincretismo religioso. São católicos domingo de manhã, evangélicos domingo à noite e espíritas em algumas reuniões e consultas durante a semana. Não é de se estranhar que uma das características destes líderes falsos dos nossos dias é dizer assim: "Você que é evangélico, católico, espírita, venha para nossa reunião". Não que seja errado convidar tais pessoas aos cultos, mas a questão é que essas três religiões são colocadas num mesmo nível, e o espírita, por exemplo ao visitar essas igrejas, não sente a menor necessidade de abandonar suas práticas antibíblicas para se converter. Até porque lá não se fala em arrependimento...
Mas não é só no sincretismo que vive a multidão. Ela vive na ilusão da salvação. As pessoas pensam que estão indo rumo ao céu, mas suas ações mostram que desejariam viver na terra, enquanto na verdade estão caminhando para o inferno! Claro que isso não se aplica a todos, mas à grande maioria. Porque grande parte das pessoas procura em Cristo e no evangelho, o suprimento de suas carências materiais e emocionais e pronto! Não se pensa no espiritual, nas coisas de cima, na nova criatura, na mudança de caráter... apenas em receber o que se deseja, e não exatamente o que se precisa. E Cristo e Seu Evangelho não estão à venda, nem tampouco são produtos do saco do papai noel.
Alguns conselhos para quem está nessa caminhada ilusória. Faça uma autoavaliação. Pergunte a si mesmo se o que você tem ouvido é de fato o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo. Para responder corretamente a esse questionamento é preciso muito mais do que um simples "sentir no coração". É preciso avaliar o que se tem ouvido com as Escrituras. E mais ainda, é preciso avaliar dentro do contexto da revelação da Bíblia. Se sua igreja não tem estudo bíblico, comece a se preocupar. Se você não pode fazer perguntas nos estudos (claro que não estou falando de perturbar as reuniões), se você é rejeitado por pensar (claro que tem que ser humilde para aprender), se você não pede ao seu pastor para provar na Bíblia (pelo texto e pelo contexto) o que ele tem ensinado, então é bem provável que você esteja num lugar de manipulação e não de libertação.
Outra forma de descobrir se o lugar onde você está é de libertação ou não é se seu líder se coloca como infalível. Os santarrões são exatamente o tipo de gente que gosta de oprimir. Eles nunca erram, sempre olham os membros da igreja de cima para baixo, com ar de superioridade, fazem questão de ser reconhecidos como autoridade, etc. Não estou escrevendo isso para incentivar o leitor a ficar procurando defeitos nos líderes e com isso caracterizá-los como falsos. Não. Todos nós erramos. A diferença está em admitir isso. Mas lembre-se o leitor de que mesmo assim, você foi colocado por Deus em submissão a uma autoridade espiritual. Não deve abandonar seu pastor porque ele erra, mas se ele não reconhece o erro, aí temos um problema. Todos nós somos iguais perante Deus em valor, mas somos diferentes nas funções e, como tal, cada um no seu chamado.
Se você está numa comunidade que gasta mais tempo de suas mensagens falando em dinheiro do que na Palavra de Deus, então é um sinal amarelo de advertência. Não que seja errado falar sobre dinheiro na igreja, aliás é útil. Na minha jornada pastoral, tenho visto, inclusive, que multidões ofertam mais aos falsos pastores e falsas igrejas do que aos verdadeiros pastores e igrejas. Mas a pregação da Palavra não pode ser substituída por um pedido extravagante, quase mendicante e, muitas vezes opressor de dinheiro. Se seu líder é um extravagante, um pedinte desavergonhado de dinheiro, avarento, amante das riquezas, só fala em "prosperidade", um opressor financeiro da igreja, que humilha quem dá pouco, que zomba de quem não tem posses, ou dos que possuem bens de baixo valor, então você está lidando com um falso profeta, não com um pastor. Tenho base bíblica para o que estou falando, portanto não tenho medo de falar. Clique aqui para ler sobre os inimigos da cruz de Cristo.
Não tenha medo de conhecer a verdade. Ela liberta da opressão, não só dos espíritos malignos, mas também da malignidade dos homens que se dizem de Deus!
Dia tes písteos.
Pr. Cleilson