Os defensores da maldição hereditária geralmente citam o
texto de Êxodo 20.5, que diz: “... porque
eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos
filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem”. Os opositores
a essa teoria citam Romanos 8.1: “Agora,
pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Porém,
tanto um quanto o outro não estão sendo honestos com o significado do texto. O segundo
mandamento em Êxodo, que proíbe a idolatria, diz que quem visita a iniquidade
dos pais nos filhos é Deus e não o diabo. Já em Romanos, Paulo trata da
condenação do inferno e não de algum tipo de visitação de Deus na família de
alguém.
Se, por um lado, é Deus quem visita a iniquidade dos pais nos
filhos (e se é isso que é maldição hereditária), então ninguém pode quebrar isso,
pois não há ninguém maior que Deus que tenha poder para desfazer o que Ele faz.
Isso é o "bê-á-bá" cristão. Por outro lado, afirmar com o apóstolo Paulo em
Romanos que não há condenação para quem está em Cristo Jesus, não significa que
não sejamos alvo da perseguição maligna.
Alguém que crê no ensino da maldição poderia questionar que há
evidências de pessoas que sofrem com o vício do alcoolismo, por exemplo, porque
seu pai era também um alcoólatra e atribuir isso ao “demônio do álcool” que
amaldiçoava o pai e que agora está amaldiçoando o filho também bêbado. Todavia,
isto pode ser respondido de duas maneiras. Ou este jovem teve uma influência
familiar na sua criação e reproduz isto como resultado do aprendizado que
obteve de seu pai (o que é muito mais provável), ou então, se de fato a origem
desse problema é de ordem maligna, este espírito maligno persegue o filho pelas
mesmas vias que perseguia o pai. Mas a visitação de Deus é algo diferente
disso. A visitação de Deus numa família que odeia a Deus vai muito além de
apenas repetir um problema de escravidão espiritual de pai pra filho. Visitar tem
o sentido de punir.
Quanto aos defensores do texto de Romanos, a maioria ignora
o fato de que realmente há casos em que espíritos malignos perseguem por
gerações muitas famílias, escravizando-as em vários sentidos, como testemunham
os missionários, principalmente os que evangelizam tribos animistas e não civilizadas,
afirmando que há todo tipo de escravidão espiritual por parte dos demônios
sobre muitas e muitas gerações daqueles povos. O que Romanos 8 diz é que não há
condenação (do inferno) para os que estão em Cristo Jesus. Nada ele diz acerca
desse tipo de perseguição maligna que acontece na vida de pessoas inclusive
crentes. Obviamente quando alguém crê em Cristo e O recebe, o diabo não tem
poder sobre sua vida (1Jo 5.18), não pode sequer acusá-lo de pecado algum (Rm
8.31-33) nem tem poder para amaldiçoá-lo, pois não estamos sujeitos aos
encantamentos malignos. Mas não podemos negar em hipótese alguma que, mesmo nos
tornando crentes em Cristo, ainda estamos sujeitos a perseguições malignas. O próprio
Paulo é um exemplo disso, como ele mesmo testemunha que foi-lhe dado um espinho
na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo (2Co 12.7).
Embora haja muita discussão sobre a natureza deste “espinho”, não se pode negar
sua origem (Deus) e quem era (um mensageiro [anjo] maligno). O crente não está
isento das perseguições malignas em várias espécies.
Claro que não existe maldição hereditária, mas existe
perseguição maligna e enorme influência doméstica exercida sobre os filhos. Voltando
ao exemplo do filho alcoólatra que foi criado por um pai com este mesmo vício. Se
esse jovem vem a Cristo pela fé, uma coisa já está resolvida pra ele: ninguém
mais pode condená-lo! Ele é justificado pela fé em Cristo (Rm 5.1). Deus o
declara justo e nem o diabo e seus demônios, nem homens, nem a própria
consciência dele poderá acusá-lo diante daquele que o justificou! Sua sentença
é irrevogável. Todavia, este jovem sofrerá severamente no processo de sua
santificação. Tanto ele será perseguido por espíritos malignos para dissuadi-lo
do evangelho, como também será tentado de dentro para fora, uma vez que terá
que lutar contra sua velha natureza acerca do maior desejo pecaminoso de sua
carne, a bebida!
Finalizo, deixando uma pastoral para os irmãos: Paulo nos
diz que os irmãos fortes devem suportar as debilidades dos fracos e não serem
egoístas (Rm 15.1). Qualquer caso parecido com este exemplo acima, deveria ser
visto pela igreja como um desafio que nos dá a oportunidade de revelarmos que
somos verdadeiramente a família espiritual daquela pessoa! Não de chamarmos
este irmão para uma campanha de libertação, embora devamos orar sim por sua
firmeza espiritual e juntos ordenarmos às forças malignas que o perseguem que
se afastem, ainda que Deus é quem decide se vai tirar isso ou não (afinal, como
dizia Lutero, o diabo é o diabo de Deus – isto é, Deus usa o diabo). Mas a
igreja deveria ajudá-lo orientando-o sobre a luta da carne contra o espírito,
estimulando-o às práticas devocionais, falando sobre os meios da graça,
inserindo-o na comunhão entre os irmãos, enfim, mostrando que as forças do
pecado não prevalecem finalmente sobre a nova criatura, mas que isso não deve
nos relaxar e sim nos fortalecer num embate espiritual contra nossa natureza
adâmica e em guerra renhida contra nosso inimigo espiritual. Assim estaremos
corretos com o texto de Romanos, mostrando para essa pessoa que ele não está
debaixo de condenação alguma e, ao mesmo tempo, estaremos corretos com o texto
de Êxodo, que finaliza o segundo mandamento assim: “e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os
meus mandamentos (Êx 20.6).
Dia tēs písteōs
Pr. Cleilson
num disse?
ResponderExcluir