Teolatria

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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

MALDIÇÃO HEREDITÁRIA OU “NENHUMA CONDENAÇÃO HÁ”?

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Os defensores da maldição hereditária geralmente citam o texto de Êxodo 20.5, que diz: “... porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem”. Os opositores a essa teoria citam Romanos 8.1: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Porém, tanto um quanto o outro não estão sendo honestos com o significado do texto. O segundo mandamento em Êxodo, que proíbe a idolatria, diz que quem visita a iniquidade dos pais nos filhos é Deus e não o diabo. Já em Romanos, Paulo trata da condenação do inferno e não de algum tipo de visitação de Deus na família de alguém.

Se, por um lado, é Deus quem visita a iniquidade dos pais nos filhos (e se é isso que é maldição hereditária), então ninguém pode quebrar isso, pois não há ninguém maior que Deus que tenha poder para desfazer o que Ele faz. Isso é o "bê-á-bá" cristão. Por outro lado, afirmar com o apóstolo Paulo em Romanos que não há condenação para quem está em Cristo Jesus, não significa que não sejamos alvo da perseguição maligna.

Alguém que crê no ensino da maldição poderia questionar que há evidências de pessoas que sofrem com o vício do alcoolismo, por exemplo, porque seu pai era também um alcoólatra e atribuir isso ao “demônio do álcool” que amaldiçoava o pai e que agora está amaldiçoando o filho também bêbado. Todavia, isto pode ser respondido de duas maneiras. Ou este jovem teve uma influência familiar na sua criação e reproduz isto como resultado do aprendizado que obteve de seu pai (o que é muito mais provável), ou então, se de fato a origem desse problema é de ordem maligna, este espírito maligno persegue o filho pelas mesmas vias que perseguia o pai. Mas a visitação de Deus é algo diferente disso. A visitação de Deus numa família que odeia a Deus vai muito além de apenas repetir um problema de escravidão espiritual de pai pra filho. Visitar tem o sentido de punir.

Quanto aos defensores do texto de Romanos, a maioria ignora o fato de que realmente há casos em que espíritos malignos perseguem por gerações muitas famílias, escravizando-as em vários sentidos, como testemunham os missionários, principalmente os que evangelizam tribos animistas e não civilizadas, afirmando que há todo tipo de escravidão espiritual por parte dos demônios sobre muitas e muitas gerações daqueles povos. O que Romanos 8 diz é que não há condenação (do inferno) para os que estão em Cristo Jesus. Nada ele diz acerca desse tipo de perseguição maligna que acontece na vida de pessoas inclusive crentes. Obviamente quando alguém crê em Cristo e O recebe, o diabo não tem poder sobre sua vida (1Jo 5.18), não pode sequer acusá-lo de pecado algum (Rm 8.31-33) nem tem poder para amaldiçoá-lo, pois não estamos sujeitos aos encantamentos malignos. Mas não podemos negar em hipótese alguma que, mesmo nos tornando crentes em Cristo, ainda estamos sujeitos a perseguições malignas. O próprio Paulo é um exemplo disso, como ele mesmo testemunha que foi-lhe dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo (2Co 12.7). Embora haja muita discussão sobre a natureza deste “espinho”, não se pode negar sua origem (Deus) e quem era (um mensageiro [anjo] maligno). O crente não está isento das perseguições malignas em várias espécies.

Claro que não existe maldição hereditária, mas existe perseguição maligna e enorme influência doméstica exercida sobre os filhos. Voltando ao exemplo do filho alcoólatra que foi criado por um pai com este mesmo vício. Se esse jovem vem a Cristo pela fé, uma coisa já está resolvida pra ele: ninguém mais pode condená-lo! Ele é justificado pela fé em Cristo (Rm 5.1). Deus o declara justo e nem o diabo e seus demônios, nem homens, nem a própria consciência dele poderá acusá-lo diante daquele que o justificou! Sua sentença é irrevogável. Todavia, este jovem sofrerá severamente no processo de sua santificação. Tanto ele será perseguido por espíritos malignos para dissuadi-lo do evangelho, como também será tentado de dentro para fora, uma vez que terá que lutar contra sua velha natureza acerca do maior desejo pecaminoso de sua carne, a bebida!

Finalizo, deixando uma pastoral para os irmãos: Paulo nos diz que os irmãos fortes devem suportar as debilidades dos fracos e não serem egoístas (Rm 15.1). Qualquer caso parecido com este exemplo acima, deveria ser visto pela igreja como um desafio que nos dá a oportunidade de revelarmos que somos verdadeiramente a família espiritual daquela pessoa! Não de chamarmos este irmão para uma campanha de libertação, embora devamos orar sim por sua firmeza espiritual e juntos ordenarmos às forças malignas que o perseguem que se afastem, ainda que Deus é quem decide se vai tirar isso ou não (afinal, como dizia Lutero, o diabo é o diabo de Deus – isto é, Deus usa o diabo). Mas a igreja deveria ajudá-lo orientando-o sobre a luta da carne contra o espírito, estimulando-o às práticas devocionais, falando sobre os meios da graça, inserindo-o na comunhão entre os irmãos, enfim, mostrando que as forças do pecado não prevalecem finalmente sobre a nova criatura, mas que isso não deve nos relaxar e sim nos fortalecer num embate espiritual contra nossa natureza adâmica e em guerra renhida contra nosso inimigo espiritual. Assim estaremos corretos com o texto de Romanos, mostrando para essa pessoa que ele não está debaixo de condenação alguma e, ao mesmo tempo, estaremos corretos com o texto de Êxodo, que finaliza o segundo mandamento assim: “e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos (Êx 20.6).

Dia tēs písteōs


Pr. Cleilson

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