Uma verdade que já sabemos e é reiterada várias vezes na
Escritura é que uma das mais profundas figuras para representar a comunhão é
participar à mesa de alguém e comer com ele. Talvez a figura mais profunda seja
a relação conjugal, a qual Deus também compara com Sua comunhão com Seu povo.
Depois desta, a maior figura é se juntar à mesa para comer. Ninguém convida à
sua mesa alguém que não lhe seja afeiçoado, exceto por motivos traiçoeiros. Quando
Deus foi instituir a lei para Seu povo, um banquete foi feito ali mesmo no
monte com seus representantes (Êx 24.9-11). O encontro de Melquisedeque com
Abrão foi também marcado com pão e vinho (Gn 14.18). O salmista rogava a Deus
uma mesa na presença de seus adversários (Sl 23.5). Mefibosete à mesa do rei
Davi tinha a garantia de que participaria da graça do rei até o fim dos seus
dias (2Sm 9.7). A Nova Aliança foi estabelecida com estes dois elementos, assim
como os vemos à mesa da ceia (Mt 26.26-28).
Todavia, estes exemplos não começaram com os homens e sim
com Deus. Lá no Éden, Deus plantou “árvores lindas que produziam frutos
deliciosos” (Gn 2.9 – NVT). Estas árvores estavam liberadas para o
consumo, satisfação e prazer do homem, mas não sozinho. Logo após ter permitido
livremente o uso de todas as árvores do jardim, Deus disse que não era bom que
o homem estivesse só (Gn 2.16-18). Ele teria o desfrute daqueles frutos
juntamente com sua esposa e, principalmente, ambos com Deus. Lemos que as
árvores eram “agradáveis à vista”. Deus não é contra a beleza, a estética,
o prazer visual, desde que tais atrações sejam para as coisas que Ele ordenou.
Ainda mais, as árvores não eram somente agradáveis à vista, mas também
produziam frutos deliciosos, ou seja, Deus também não é contra o desfrute dos
prazeres aos sentidos, obviamente desde que sempre sujeitos à Sua permissão.
Eva colocou o pé fora da linha limítrofe quando sentiu tais atrações por aquela
árvore que Deus havia proibido (Gn 3.6). Portanto, é pecado desejar o que Deus
proibiu, assim como é pecado rejeitar o que Deus ordenou.
Sobre a proibição, temos um paralelo também com a ceia do
Senhor. Os elementos aqui dispostos são sinais da comunhão que Deus nos deu com
Seu Filho Jesus Cristo. A ceia do Senhor é um convite à comunhão, mas tem
também sua restrição, assim como no jardim. A árvore do conhecimento do bem e
do mal era proibida não porque Adão e Eva não soubessem o que era o bem e o
mal, afinal, só o fato de Deus proibir e eles terem obedecido por algum tempo
mostra que eles sabiam o que era o bem e o mal. O bem era obedecer e o mal era
desobedecer. A questão é que a palavra conhecer na Bíblia tem um
sentido mais profundo. Diz respeito à intimidade, ao relacionamento. Dessa
forma, Adão e Eva tinham um “conhecimento” relacional com o bem, isto é, com
Deus, quando na viração do dia participavam com Ele da comunhão, do deleite e
desfrute dos alimentos livres. Já com relação ao mal, eles sabiam, mas não
“conheciam”, ou seja, sabiam que era mau comer do fruto proibido, mas ainda não
haviam conhecido isso, ou experimentado na prática. É nesse sentido que eles
não conheciam o mal, embora estivessem conhecendo o bem. Na ceia, a mesma
coisa. O Senhor quer que tenhamos comunhão com Ele, isto é, que conheçamos cada
vez mais o bem que procede dEle. Mas Ele não quer que tenhamos a mesma comunhão
com o mal, embora deseje que saibamos o que é o mal exatamente para evitá-lo e
vencê-lo. Aqui nesta mesa temos a liberação e a proibição. Muita coisa liberada
para a qual devemos olhar, amar e provar. Mas também a proibição a qual devemos
discernir, odiar e rejeitar.
A participação do casal na árvore proibida lhes trouxe a
experiência do bem e do mal, ou seja, lhes fez saber na prática que haviam
desobedecido a Deus e que o castigo estava às portas. O próprio reconhecimento
da nudez era uma prova de que o mal havia penetrado suas consciências e as
folhas de figueira costuradas eram sua luta para reconstituir o laço quebrado.
Esconder-se entre os arbustos do jardim revela a inútil tentativa de se ocultar
do juízo, coisa que até hoje o homem faz. O conhecimento do mal acarreta outros
males após si. Ao desejar se satisfazer do que lhe pareceu agradável, isso já
foi um mal, visto que só podemos nos agradar daquilo que agrada a Deus, ou do
que Ele nos ordena que nos agrademos. A seguir, Eva acarretou consigo a
consumação do desejo, que foi comer do fruto dá-lo ao seu marido, que comeu com
ela. Ao se lhes abrir a consciência de sua nudez, isto é, de sua exposição da
desobediência, algo que eles tinham como comum (2.25), acarretou também o mal
de tentar reparar a exposição, costurando as folhas de figueira. Sobre este mal
veio outro que foi fugir do Senhor, de Sua voz que passeava pelo jardim. Todas
estas coisas provam que eles agora tinham um profundo relacionamento com o mal.
Essas ilustrações mostram que o mesmo acontece diante da mesa do Senhor na nova
aliança. O convívio e a prática do mal nos leva a produzir desculpas furadas e,
por conseguinte, afasta-nos da mesa da ceia.
Mas, como disse A. W. Pink, muitas figuras também são vistas
quando comparamos esta árvore à cruz do Salvador. A primeira árvore foi
plantada por Deus (Gn 2.9), a segunda pelo homem (Mt 27.35). A primeira árvore
era agradável aos olhos (Gn 3.6), a segunda não tinha aparência nem formosura
(Is 53.2). A primeira árvore foi proibida por Deus de o homem se alimentar dela
(Gn 2.17), da segunda, o homem é convidado a se aproximar e comer dela (Sl
34.8; Lc 14.17). À primeira árvore, Satanás tentou o homem a se alimentar,
porque Deus o proibiu, enquanto da segunda árvore, Satanás tenta o homem a se
distanciar, porque Deus o convida. Comer do fruto da primeira árvore trouxe o
pecado e a morte para a humanidade, mas comer da segunda árvore traz a vida
eterna para aquele que crê (Jo 6.53,54). A primeira árvore teve um ladrão
(Adão) que dela usurpou e comeu contra a ordem de Deus e foi expulso do
paraíso, enquanto que, ao comer da segunda árvore, um ladrão (Dimas) entrou no
Paraíso! Prosseguindo em suas comparações, Pink diz que ambas as árvores foram
plantadas em um jardim: a primeira no Éden e a segunda no Calvário, onde havia
um jardim (Jo 19.41). Ambas as árvores estavam “no meio”: a primeira no meio do
jardim e a segunda no meio de dois ladrões (Jo 19.18). Ambas as árvores são do
conhecimento do bem e do mal. A primeira fez com que o casal experimentasse o
mal como já haviam participado do bem por experiência, a segunda carregava o
mal dos nossos pecados e o bem de Deus ao nos conceder perdão e justificação!
Ambas as árvores carregavam maldição. A primeira acarretou maldição a Adão, sua
mulher e seus descendentes (Gn 3.17), bem como à criação e a segunda acarretou
maldição somente sobre Cristo, que sobre Si carregou a maldição de todos os que
nEle creem (Gl 3.13)! Finalmente, Pink compara a cruz com os carvalhos de
Manre, onde Abraão recebeu os ilustres visitantes (Gn 18.1-4). Ali, Abraão pede
que os visitantes descansem à sombra da árvore (v. 4), enquanto lhes prepararia
o que comer (v. 5). Na segunda árvore também encontramos descanso. É debaixo
dela, da cruz, que nos alimentamos hoje da ceia do Senhor e participamos de Sua
gloriosa comunhão e intimidade.
Participemos hoje da mesa do Senhor não para
sermos testados. Cristo já foi testado por nós e passou fielmente no teste de
Deus. Participemos como filhos, não apenas convidados. Deus proibiu Adão de
comer da árvore da vida depois que pecou para que não vivesse eternamente no
pecado, mas nos ordena a comer dela em Cristo para que vivamos eternamente em
justiça e santidade. Que Deus abençoe nossa comunhão com Ele e uns com os
outros!
Día tes písteos.
Pr. Cleilson
eta glória Deus abençoado
ResponderExcluirGlória a Deus!
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