“Ninguém, ao ser
tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal
e ele mesmo a ninguém tenta” (Tg 1.13).
Quando lemos que Deus não pode ser tentado pelo mal e, ao mesmo tempo, encontramos nos Evangelhos que Jesus foi tentado, pode-se dar margem à pergunta: se Deus não pode ser tentado pelo mal; se Jesus é Deus; se Ele foi tentado pelo maligno; como fica essa questão?
Primeiramente, devemos traduzir a palavra “mal” aqui em Tiago e a palavra “maligno”, que se refere frequentemente a Satanás, no NT. Há duas palavras gregas para “mal”. Uma se refere aos males do mundo caído, ou seja, os males como doenças, acidentes, imprevistos e coisas afins. É a palavra grega kakós. Já a palavra ponerós, que muitas vezes foi também traduzida por “mal”, se refere ao mal personalizado, isto é, o maligno.
A palavra que Tiago está usando aqui é a palavra kakós. Ele está dizendo que Deus não pode ser tentado pelos males do dia a dia e, de fato, não pode mesmo. Essas coisas não atingem a Deus. Ainda que Jesus, mesmo em carne, não tendo deixado de ser Deus, passando por todas as privações e aflições do mundo caído, como pobreza, padecimento e dores, mesmo assim, Ele não podia ser tentado por esse tipo de mal. Tais coisas não constituíam uma tentação para Ele.
É disso que Tiago está falando. Ele está dizendo que os contratempos do mundo caído não podem atingir a Deus, nem mesmo o Deus encarnado, ainda que estivesse sujeito a passar por tudo isso. Isso que quer dizer “Deus não pode ser tentado pelo mal”.
Já no que diz respeito ao mal personalizado, Deus em carne foi tentado sim. Os Evangelhos nos mostram claramente isso. O maligno (ponerós) tentou Jesus e Jesus é Deus. O que Tiago está dizendo é que, para nós, os males do mundo caído se constituem em tentação, uma vez que, quando passamos pelas aflições deste mundo, logo se manifestam as cobiças do nosso coração contra Deus.
O maligno, que é o mal personalizado, pode nos tentar usando os males do mundo caído, inclusive foi o que ele fez contra Jó. Mas contra Jesus, o maligno não pôde usar nada deste mundo caído para tentar Jesus, porque Jesus, sendo Deus, não pode ser tentado pelo mal, isto é, pelos males do cotidiano. Por isso, o diabo teve que usar outros recursos para tentar Jesus.
O alerta de Tiago é que nós somos facilmente envolvidos na tentação, porque a semente do pecado já está em nosso coração. Não é Deus quem está nos tentando, não é Ele quem nos induz à tentação, afinal, quando Deus ordena alguma coisa, isso deve ser feito e pecado é exatamente não fazer, mesmo assim, Ele nos coloca em situações de tentação para nos testar, mas não para nos induzir a pecar. O Espírito Santo também levou Jesus ao deserto para ser tentado, porém, Ele mesmo não tentou Jesus, senão o diabo.
Nossas tentações são testes. Os males deste mundo caído já
nos induzem à tentação naturalmente. Deus nos coloca diante deles e diante de
nós mesmos, para que conheçamos o ambiente em que vivemos e também a nós
mesmos, como somos pecadores, inclinados para o mal e que necessitamos da graça
de Deus para vencermos antes que as tentações, as nossas inclinações.
Día tes písteos.
Pr. Cleilson






