Muitos cristãos leigos não sabem o que é graça preveniente. E quando escutam sobre isso pela primeira vez, concordam sem qualquer questionamento. Na verdade, a graça preveniente foi um meio de encontrar uma ponte entre a incapacidade humana e a graça da salvação sem apelar para a predestinação. Seus defensores ensinam, em resumo, que a graça preveniente é a condição que Deus dá ao pecador, quando este ouve o evangelho, condição esta de decidir crer ou não em Jesus. Dito dessa forma, muitos crentes leigos concordam que existe realmente a graça preveniente. Afinal, todos concordam que o homem não tem poder próprio para vir a Cristo. Mas para não admitir a doutrina da predestinação, os defensores da graça preveniente dizem que Deus dá esse tipo de graça ao pecador, que o coloca, por exemplo, na condição de Adão antes da Queda e assim, o pecador escolhe a Cristo (o bem) ou não (o mal). Tudo de novo??? É isso que muita gente não sabe.
Se a doutrina da graça preveniente significasse que Deus capacita o homem a crer, uma vez que, no pecado, ele não pode crer por si mesmo, todos nós concordaríamos. No entanto, não é isso que ensina essa doutrina. Ela diz que o homem, assim que ouve o evangelho, recebe a graça preveniente e fica numa condição neutra, para que, com seu livre-arbítrio restaurado por esta graça, ele possa aceitar ou não o evangelho. Desmascarada essa doutrina, logo o leitor percebe a cilada que ela arma. Qual é a cilada? É que esse tipo de graça (se existisse) tira a graça da salvação.
Suponha que duas pessoas escutem o evangelho e tenham recebido a graça preveniente. Elas recebem de volta o seu livre-arbítrio em pureza para decidir por Cristo ou não. Uma delas decide por Cristo e a outra não. Por que isso aconteceu? Porque uma delas usou bem seu livre-arbítrio restaurado e a outra não. Logo, Deus concede salvação a esta pessoa, o que torna a salvação uma recompensa e não uma dádiva da graça. Percebe que o pecador que escolheu a Cristo nesse caso é melhor do que o outro pecador? Usando seu livre-arbítrio restaurado, ele foi mais capaz, foi mais sensato, foi mais inteligente, foi mais consciente do que o outro e assim, teve mérito na sua salvação! O outro, usou também seu “novo” livre-arbítrio, mas escolheu mal. Ele escolheu rejeitar o evangelho e, portanto, será justamente condenado. Engraçado é que, embora a doutrina da graça preveniente se diga universal, ela nada tem a dizer sobre aqueles que não ouviram o evangelho. Ou será que serão salvos à parte de Cristo?
Mas será isso mesmo que a Bíblia ensina? Um sonoro NÃO deve ser a resposta! A Bíblia JAMAIS faz qualquer menção de algum ser humano colocado novamente na posição de Adão antes da Queda! Somente ele esteve nessa posição, tanto por ter sido criado assim por Deus, como porque era também nosso representante diante de Deus. Jamais houve nem haverá alguém criado como Adão, tampouco jamais haverá outro representante da raça humana diante de Deus no sentido da primeira criação, a não ser ele. Em segundo lugar, a Bíblia jamais ensina que nosso livre-arbítrio é recuperado! Jesus disse que “todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). Mas quando o Filho liberta alguém, esse alguém fica livre do pecado, porém, servo da justiça: “e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (Rm 6.18). Ou seja, não existe um plano intermediário antes da decisão do pecador. Ou ele é escravo do pecado, ou é servo (escravo – Paulo usa a mesma palavra grega, doulos para ambos) da justiça!Na verdade, o que os defensores dessa doutrina chamam de “graça preveniente”, o NT chama de “regeneração, novo nascimento, nova criatura, novo homem, ressuscitados com Cristo”, etc. O ensino dos apóstolos é que estávamos mortos em nossos pecados (Ef 2.1; Cl 2.13). Quando o evangelho foi pregado a nós, Ele nos deu vida, conforme diz o apóstolo Pedro: “pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1Pe 1.23). Ele não nos retornou a um suposto livre-arbítrio, supostamente recuperado, para pateticamente correr aquele risco de alguém ainda rejeitar! Isso é um completo absurdo! Deus te dá seu livre-arbítrio para você novamente rejeitá-lo... ou quem sabe, aceitá-lo? É o risco que Deus corre (dirão os libertarianos). Segundo os arminianos e outros que defendem essa doutrina, só há verdadeiro amor onde há liberdade. Mais uma frase de efeito que não pode ser provada pela Escritura! Antes, o que diz o apóstolo João? “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4.10). Nada fala de liberdade e risco. O que a Bíblia diz é que o amor veio de Deus e, tendo Ele nos amado, então nós também O amaremos (v. 19) – “nós O amamos porque Ele nos amou primeiro”. Quando alguém ouve o evangelho da salvação e sendo esta pessoa regenerada pelo chamado de Cristo ao seu íntimo, então, tal pessoa é ressuscitada dos mortos espirituais, isto é, ela recebe vida, uma nova vida, uma nova natureza e, consequentemente, passa a ser feita filha de Deus!
Por que então isso não acontece com todos os que ouvem o evangelho? Porque Jesus dá vida a quem Ele quer. Veja o que Ele disse: “Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer” (Jo 5.21). Ele disse mais: “assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste” (Jo 17.2). Jesus tem autoridade sobre todos os homens, mas só concederá vida eterna aos que o Pai Lhe deu. Os demais, Ele deixará mortos como estão, em seus delitos e pecados. Ainda que ouçam o evangelho da parte do pregador, jamais ouvirão a voz do Supremo Pastor, a única voz que é capaz de tirá-los de seu estado de morte e sepultamento espirituais.
Você pode perguntar: mas por que Ele faz assim? E o próprio Jesus responde: “ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Mt 11.25,26). Quando uma coisa é do agrado do Pai, ela será feita daquele jeito! Ainda disse nosso Salvador: “ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (v. 27). Se é do agrado do Pai esconder estas coisas da salvação dos sábios e instruídos e então revelá-las somente aos pequeninos, logo, o Filho revelará o Pai apenas para aqueles a quem Ele quiser revelar, isto é, somente aos pequeninos do Pai. Não há recuperação de livre-arbítrio. Não há suposta posição de Adão antes da Queda. Não. O que há é regeneração, nova vida em Cristo e isto, se Ele quiser te dar. Aí sim, a salvação será pela graça, pela dádiva e não por um reconhecimento da parte de Deus pelo seu esforço ou inteligência para escolhê-lo. A força humana e a sabedoria humana são fraqueza e idiotice diante de Deus. Por outro lado, a fraqueza de Deus e Sua loucura são mais forte e mais sábia do que os homens (1Co 1.25)! Para quê? “a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (v. 29)!
Não existe graça preveniente. O que existe é a graça
salvadora, que começa no amor eterno de Deus por Seus eleitos, predestina-os
para serem conformes à imagem do Seu Filho e então se encarrega de chamá-los
pelo evangelho, regenerá-los por Seu Espírito, convertê-los por meio da fé e do
arrependimento, justificá-los pela fé em Cristo, adotá-los como filhos e
herdeiros, santificá-los por Sua habitação em Espírito, segurá-los em toda
jornada até o fim e então glorificá-los com o mesmo corpo de glória que tem o
seu Senhor! Isto sim, é graça não só preveniente, mas providente!
Día tes písteos.
Pr. Cleilson
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