“Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher escrava e outro da livre” (Gl 4.22).
Quando o apóstolo Paulo escreveu aos gálatas, ele tentava combater a influência judaizante sobre a igreja de Cristo. Os judaizantes perseguiam as igrejas recém-formadas, tentando confundir os irmãos novos convertidos, afirmando que para agradar a Deus precisavam observar certos ritos da lei de Moisés, principalmente a circuncisão, no caso dos gálatas.
Ao combater esse falso ensino, Paulo se utiliza da história muito bem conhecida e venerada pelos judeus, falando de sua genética. Os judeus verdadeiros haviam nascido de Abraão com Sara, sua esposa. Os ismaelitas nasceram de Abraão com sua escrava, Agar. Sabemos como existe essa rivalidade até os nossos dias entre judeus e palestinos.
Mas Paulo vai além. Ele combate os próprios judeus, dizendo que eles, que nasceram fisicamente de Abraão e Sara, espiritualmente, são filhos da escrava; e os que nasceram de Cristo Jesus, espiritualmente, é que são os verdadeiros filhos de Abraão e Sara. Para entender melhor esta alegoria, devemos raciocinar do menor para o maior. Por exemplo, naturalmente falando, os ismaelitas estão fora desta comparação, pois nasceram da escrava. Já os judeus originais, que se arrogavam ser descendentes legítimos de Abraão com sua esposa, Paulo os classifica no sentido espiritual como sendo nascidos da escrava. E os crentes em Cristo, sejam judeus, ismaelitas ou gentios em geral, Paulo os classifica espiritualmente como sendo os legítimos filhos de Abraão com sua esposa.
Não era novidade este pensamento. João Batista, ainda antes de Jesus iniciar Seu ministério, já dizia que até “destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mt 3.9). O próprio Senhor repreendeu os judeus de sua época, que se orgulhavam de sua descendência genética abraâmica, dizendo que eles só seriam realmente filhos de Abraão se cressem em Cristo (Jo 8.39,56). Paulo, em outra carta, diz que os legítimos filhos de Abraão são os que creem, isto é, a igreja e não Israel (Rm 9.6-9). Assim como acabara de dizer aos próprios gálatas: “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão” (Gl 3.7).
Isso nos mostra que todo o processo de Deus na antiga aliança era verdadeiro, mas era pedagógico. Deus realmente teve uma nação separada das outras, mas para exemplificar que hoje Ele tem um povo misto, que procede de todas as nações. Israel era tipo, a igreja é seu cumprimento. Agora, Jesus e Seus santos apóstolos nos mostraram pela revelação progressiva de Deus que Deus não tem mais um povo nacionalista, mas uma igreja comprada pelo Seu sangue, de todas as tribos, línguas, povos e nações! Isto é maravilhoso! Os que têm o sangue de Abraão são filhos da escrava; mas os que têm o sangue de Jesus Cristo são filhos da esposa!
Dia tēs písteōs.
Pr. Cleilson
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