Que houve muitíssimos escritos paralelos à história da Bíblia, mesmo entre o povo hebreu, isto é conhecido desde o Velho Testamento. Ali são citados livros como “o livro das guerras do Senhor” (Nm 21.14), “o livro dos justos”, ou livro de Jasar, ou ainda “o livro dos retos” (Js 10.13; 2Sm 1.18), “livro dos atos ou da história de Salomão” (1Re 1.41), estando essa história também relatada nos livros de outros profetas que não os temos na Bíblia, como Natã, Aías e Ido (2Cr 9.29), entre outros vários.
No Novo Testamento também não é diferente. Houve cartas perdidas de Paulo. Antes da carta que conhecemos como 1Coríntios, ele já havia escrito uma outra para eles (1Co 5.9). Em Colossenses 4.16 Paulo diz que havia escrito uma carta aos laodicenses, a qual deveria ser lida entre os colossenses e a destes, deveria ser lida na igreja de Laodiceia, ou seja, uma troca de cartas, entretanto, só se preservou a de Colossenses.
O apóstolo João disse que Jesus fez tantos milagres e falou tanta coisa além do que está escrito que, se fosse escrito tudo isso, o mundo não caberia de tantos livros (Jo 21.25)! Então, sabemos que, além de ter existido livros “perdidos”, ainda, o que nos foi registrado na Bíblia foi limitado. Sim, houve muitas profecias que não foram escritas, apenas faladas, dirigidas verbalmente ao povo de Deus na antiga aliança. Houve também muitos ensinos apostólicos na nova aliança que não foram registrados, como “o que o detém” (2Ts 2.6,7), por exemplo. Ninguém sabe o que é que detém a manifestação do anticristo, mas os tessalonicenses sabiam, porque Paulo disse a eles: “Não vos recordais de que, ainda convosco, eu costumava dizer-vos estas coisas?” (v. 5). O que se faz hoje sobre isso é só especulação.
Ainda outra coisa que sabemos é que o cânon foi fechado. Já não há mais revelação canônica. Nada mais se pode adicionar à Escritura. Este é um princípio da Reforma Protestante contra a Igreja Católica Romana, chamado Sola Scriptura, ou seja, somente a Escritura e nada mais além dela. Mas a pergunta é: se fossem encontrados documentos escritos por profetas e apóstolos, como os que mostramos acima, o que seria da Bíblia? Qual o procedimento que se deveria tomar com estes escritos? Claro, estamos falando de uma hipótese. Mas se ela ocorresse, ainda assim estamos falando de escritos realmente com sua autoria comprovada.
Se cremos na Sola Scriptura, não poderíamos nos render ao acréscimo da Bíblia. Cremos que o que foi revelado e permitido por Deus para fazer parte dos livros que temos hoje é exatamente aquilo que Deus, em Sua providência, determinou para que tenhamos. Deus não errou na revelação, não errou na inspiração da Sua Palavra, portanto, não errou na preservação dela. Os escritos, mesmo que de profetas e apóstolos que não estão em nossas mãos, não foram da vontade de Deus que compusessem o cânon sagrado, embora foram escritos também inspirados.
Porém, apesar de não poder haver acréscimo na Escritura, tais livros serviriam para nós sim. Eles serviriam como comprovação daquilo que Deus já revelou na Escritura conforme a temos em mãos. Esses escritos serviriam apenas para consubstanciar, corroborar, reforçar e fortalecer o que já temos como canônico. Eles jamais entrariam em contradição com a revelação que temos. Mesmo assim, não serviriam como nova doutrina. O que temos é suficiente. Essa, aliás, é uma característica da Escritura. Ela é suficiente e poderosa para tornar o homem de Deus habilitado e aperfeiçoado para toda boa obra (2Tm 3.16,17).
Muita gente que gosta de desafiar a Bíblia na atualidade diz
que a Igreja Católica escondeu muitos livros e só publicou ou colocou na Bíblia
aqueles que ela queria obrigar as pessoas a aceitarem. Mas isso é uma fala
ignorante. Os livros da Bíblia têm autoridade própria. A igreja apenas
reconheceu a autoridade divina que já existe nesses escritos. Ela não escolheu.
A igreja não disse “esse fica e esse sai”. Para quem diz tal acusação, deveria
ser-lhe recomendado que tivesse intimidade com uma leitura constante da Bíblia
e depois comparasse com um escrito não-inspirado, seja gnóstico, que havia em abundância
no segundo século, seja apocalíptico, como havia no período interbíblico. Um leitor
atento e honesto perceberá sem muito esforço intelectual que tais escritos estão
inferiores aos escritos inspirados em milhões de vezes! Nem precisaria ser um
bispo da igreja antiga para perceber a enorme diferença! Portanto, não fique
duvidoso da Palavra de Deus. Ela é completa, dentro daquilo que Deus decidiu
que é o suficiente para qualquer pecador saber sobre seu estado pecaminoso e de
rebelião contra Deus e o que ele deve fazer para estar em paz com Deus. E para
quem tem preguiça de ler e descobrir o que é suficientemente claro nela sobre
isso, eu lhe adianto: ela diz clara e francamente que você deve se arrepender
de seus pecados, crer em Cristo conforme diz a própria Escritura, para que você
não arda eternamente no inferno de fogo e ainda aumente sua condenação por ter
rejeitado a revelação de Deus para o seu próprio bem.
Día tes písteos.
Pr. Cleilson
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