No meio do povo de Deus, tanto na antiga como na nova aliança, sempre houve tempos de despertamento espiritual. Essas épocas sempre foram antecedidas de crises. Para reverter as crises, Deus então sempre trouxe para Seu povo um renovo, um avivamento.
A história bíblica é recheada desses acontecimentos. Uma geração de pecadores afastados da comunhão é seguida por outra geração que adora ao Senhor. Logo depois de relatar a descendência ímpia de Caim, Moisés fala de Enos, a partir do qual começou a se invocar o nome do Senhor (Gn 4.26). Depois da escolha de Deus sobre Abraão, um dos maiores movimentos de Deus foi a libertação de Seu povo da terra do Egito. Nessa instalação da religião israelita tivemos a doação da lei, a organização do povo como sacerdócio real de Deus, o surgimento dos profetas e da doutrina da antiga aliança, entre outras bênçãos.
Mas logo tiveram a crise do tempo dos juízes. Cada um fazia o que julgava certo a seus próprios olhos. O avivamento vem por meio de Samuel. Porém, isso não impede que haja um pedido nefasto e egoísta do povo, rejeitando a Deus e escolhendo um rei para si “como as outras nações”. A decadência que Saul trouxe a Israel só é retirada depois da estabilidade que Davi trouxe com sua ascensão ao trono e no reinado de paz do seu filho Salomão.
Mas nada evitou a crise que causou a divisão do reino em 931 a.C. Nessa divisão, o reino do norte sempre praticou a idolatria e, por este e outros motivos, Deus o sentenciou ao cativeiro assírio. Antes disso, houve um despertamento por meio do rei Jeú, quando eliminou os adoradores de Baal e a família de Acabe, mas ele também findou seu reinado e sua vida em idolatria. Com Judá não foi diferente, apesar de Deus trazer para essa nação do sul alguns momentos de despertamento espiritual. O rei Ezequias restaurou a crise de seu pai Acaz, um dos piores reis de Judá; Josias restaurou a pior de todas as crises cometida por seu avô Manassés; mas nada disso livrou Judá do cativeiro babilônico.
Mesmo o povo do sul tendo voltado do exílio, sua conduta não mudava. A reconstrução do templo e dos muros de Jerusalém (por Zorobabel e Neemias) não foi suficiente para manter os resultados de um avivamento (trazido por Ageu e Zacarias). Futuramente, o povo recai no esquecimento de Deus, aderindo-se à helenização dos governos sucessores de Alexandre, o Grande. Restaurados sob o avivamento dos Macabeus, na rededicação do templo, na festa de Hanuká, os judeus não foram capazes de segurar os resultados disso. Entraram na crise promovida pela corrupção nos cargos sacerdotais, associando reino e sacerdócio na mesma pessoa, como Alexandre Janeu e seus descendentes, o que trouxe a confusão já estabelecida na elite religiosa nos dias do nosso Senhor.
Com a instalação do reino de Deus por meio de Jesus Cristo, o evangelho inaugura uma nova época e uma nova aliança. Deus tem um novo povo (novo, por assim dizer, pois já era Seu povo decretado desde a eternidade), composto de judeus e gentios, todos os que creem no nosso Senhor Jesus. O ponto inicial é o derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2) e assim, a igreja do Senhor é estabelecida. Em cada lugar em que a igreja era expandida havia manifestação gloriosa do Espírito Santo, como em Samaria, na casa de Cornélio, em Éfeso, etc.
Porém, nem mesmo a igreja ficou livre das crises. Os apóstolos escreveram cartas, epístolas e, todas elas, dentro de um contexto em que se exigia uma explicação mais detalhada do evangelho e da doutrina cristã. As igrejas sofriam interferência de sua cultura, perseguições dos opositores e, além disso, influência de seitas. Cristãos e pastores até, chegaram a receber ordem dos apóstolos e escritores neotestamentários para tomarem cuidado com a frieza e a apostasia. Paulo disse a Timóteo para não negligenciar o dom de Deus; o autor aos Hebreus alertou sobre o perigo dos crentes judeus retornarem para o judaísmo, pisoteando assim o sangue de Cristo; Pedro escreveu duas cartas para fortalecer os irmãos perseguidos e despertá-los sobre os falsos mestres bem como o Dia de Cristo. Ou seja, nem mesmo a igreja primitiva esteve livre de suas crises, das quais provinham alguns avivamentos e que, posteriormente, se seguiam também punições divinas.
É impossível relatar avivamentos na história do Cristianismo. Muitos são conhecidos e muitos não. Mas quase todos eles vieram de um momento crítico em que a igreja vivia e tiveram resultados transformadores. Os valdenses e albigenses, nos séculos XII e XIII; a Reforma Protestante com Lutero e outros reformadores no século XVI; os huguenotes e puritanos no século XVII; Jonathan Edwards na Nova Inglaterra, no século XVIII; em Londres, por meio de John Wesley; Edward Irving, pastor presbiteriano escocês em Londres, no século XIX; Charles Spurgeon com o avivamento da pregação da Palavra; Moody, nos EUA, também na mesma época, avivalista e evangelista; os morávios que, por meio de uma oração de 24 horas por dia durante 100 anos, fizeram a maior história de missões já ocorrida no Cristianismo; o avivamento da Coreia; da Rua Azusa; da China; em Toronto, Canadá; no Brasil, com o ressurgimento do pentecostalismo; enfim... Os avivamentos são uma constante na história da igreja.
Mas, o que acontece com a igreja depois dos avivamentos? Não podemos negar que eles acontecem. Os avivamentos são uma providência de Deus para despertar Seu povo em meio a alguma crise de sua época. Os resultados podem ser imediatos e a longo prazo. No geral, os resultados imediatos são excelentes. Vidas são transformadas, experiências com Deus são desfrutadas, há conversão de vidas, há um retorno à palavra e à oração, há despertamento para os dons espirituais, há curas e milagres em maior escala do que o normal, há arrependimento de pecados e mudanças sociais à volta da igreja e muitas outras gloriosas consequências imediatas do avivamento.
Porém, há também as consequências de longo prazo. Estas não são tão favoráveis assim. Como vimos nesse artigo, a sequência é uma repetição. Há uma crise, Deus envia o avivamento, há um renovo, há um distanciamento, Deus envia punição, a crise volta e assim, sucessivamente. As consequências de longo prazo são diversas. As pessoas podem se acostumar até mesmo com as bênçãos de avivamento. Igrejas passam a pensar que Deus só age assim; doutrinas estranhas são formadas a partir daquelas experiências; para não se perder o esplendor do avivamento, muitas igrejas continuam a forçar os acontecimentos, quando na verdade eles já acabaram; as pessoas se afastam da Bíblia; começam a criticar outras igrejas em que isso não acontece; e assim, o povo fica sujeito a vários resultados negativos de algo glorioso que Deus fez. É o caso das doutrinas estranhas de batismo no Espírito por meio de línguas e do arrebatamento secreto que surgiram no meio do avivamento da Rua Azusa, que se espalhou por alguns lugares na Europa. Envolveu homens cultos, como John Nelson Darby, John F. Walvoord, C. I. Scofield, que projetaram doutrinas estranhas derivadas deste avivamento. Não foi diferente com o avivamento de Toronto, Canadá, nas igrejas da Vinha do Aeroporto. Seu próprio líder, John Wimber, renegou o que ali acontecia! No Brasil não foi diferente. Milagres realmente ocorreram, reuniões de extensas orações, visões e dons espirituais marcaram o avivamento em nosso país, em meados de 1960. Mas o que futuramente se originou disso? Doutrinas estranhas, confusão de usos e costumes, excesso de disciplinas eclesiásticas em igrejas rigorosíssimas, como Deus é Amor, Congregação Cristã no Brasil, O Brasil para Cristo, Assembleias de Deus, etc. Pessoas se desviaram por causa do fardo pesado dessas igrejas.
Que lições e aprendizados tomamos disso? Primeiro, não podemos negar que Deus realmente promove avivamentos em Sua igreja. Tais avivamentos sempre vêm de Deus, sem dúvida, mas há igrejas que buscam mais por isso. Entretanto, as igrejas não devem buscar para se promoverem. Crescimento numérico, adesões por motivos miraculosos, essas coisas nunca foram realmente prova de que tais igrejas agradam a Deus. Se uma igreja busca pelo avivamento, ela deve entender as crises em que está inserida, tanto em si mesma, como na sociedade a seu redor e, ao buscar o avivamento, isso deve ser para promover sua santificação e influência.
Segundo, devemos tomar cuidado com o que está acontecendo no momento dos avivamentos. Nem todos os dons manifestos são obra do Espírito Santo. Há muito fogo estranho no meio disso. O discernimento nessa hora é imprescindível. Nossas emoções, sentimentalismos, euforias e outras sensações podem atrapalhar o movimento que a igreja está desfrutando, sem contar que o oportunista Satanás está de olho nessas coisas para tirar o seu proveito maligno. O avivamento de Toronto trouxe mais escândalo do que realmente mudanças significativas e proveitosas para as igrejas que o seguiram.
Terceiro, precisamos estar atentos aos resultados de curto e longo prazos. Que Deus derrama Sua bênção e poder, isso é indiscutível. Mas o que nós vamos fazer com tais bênçãos? Jamais a Bíblia deve ser substituída, ou sequer equiparada. As experiências mostram o que a Bíblia já dizia, mas elas não substituem nem se igualam à Palavra de Deus. As experiências precisam ser vivenciadas sob a orientação das Escrituras. O avivamento em Jerusalém por meio do rei Josias foi um retorno à Palavra, assim como também o da Reforma Protestante, por Lutero. Mas não basta ter a Bíblia como fonte do avivamento. Ela deve ser seu parâmetro consequente.
Em quarto lugar, não devemos nos esquecer dos ciclos. Isso é muito perigoso. O avivamento procede de alguma crise, mas nem toda crise gera avivamento! Mas, como em geral, as pessoas sempre voltam ao seu estado de letargia e indiferença, o que se segue ao avivamento é punição. Não só para a sociedade incrédula que cerca a igreja, como também à própria igreja, caso ela não compreenda o desejo de Deus com a bênção do avivamento que Ele dá.
Quinto, não podemos confundir as coisas e idolatrar o avivamento. Há pessoas que se deslocam de um canto do mundo para verificar um avivamento no outro lado do planeta e, com isso, muitos passam a idolatrar o movimento em vez de adorar ao Deus que o promoveu. Ao inverso, também não podemos negar os avivamentos, acusando-os de fogo estranho. Sabemos que há muito fogo estranho no meio de muitas igrejas, principalmente as pentecostais e carismáticas. Mas isso não significa que todo mover carismático seja fogo estranho. Deus dá sim, avivamentos para Sua igreja em vários locais do mundo, mesmo que não registrados ou documentados. Entretanto, é necessário esse discernimento.
Por último, precisamos lembrar que o avivamento é uma
providência de Deus de modo temporal. Ele não vai acontecer sempre e também não
deve ser a rocha na qual a igreja deve se firmar. Há momentos em que apenas uma
certa igreja local é que precisa; há outros momentos em que quem precisa dele é
a comunidade; há outras situações em que é a cidade que precisa ser incendiada;
ou províncias inteiras, ou até mesmo a nação. Mas isso não vai ocorrer sempre e,
quando não ocorrer, não é porque há algo de errado com a igreja. O que diz que
está errado ou não com a igreja é a Bíblia e não a falta ou a presença de algum
avivamento. Uma igreja presenteada por Deus com um avivamento deve Lhe ser
grata, deve aproveitá-lo, mas não deve se esquecer dos cuidados e das lições que
outros avivamentos já nos trouxeram na história.
Día tes písteos.
Pr. Cleilson
Amém! Glória a Deus por esse esclarecimento.
ResponderExcluirAmém, minha irmã!
ExcluirLouvado seja o Senhor eternamente
ResponderExcluirAmém!
ExcluirMuito esclarecedor 🙏
ResponderExcluirGlória a Deus! O Senhor te abençoe.
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