Teolatria

No Teolatria você encontra diversos estudos bíblicos em slides (power point) para baixar, além de muitas pregações, sermões expositivos, textuais, temáticos em mp3, dos pregadores da IMVC - Vilhena/RO: Pr. Cleilson, Pb. João, Pb. Alex, Pb. Wesllen Ferreira, irmã Clair Ivete e pregadores convidados.

domingo, 25 de dezembro de 2016

NATAL SEM GRAÇA TROUXE A GRAÇA NO MEIO DA DESGRAÇA

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No princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... e o Verbo Se fez carne e armou Sua tenda temporária entre nós... (Jo 1.1,14).

A desgraça humana já estava instalada na terra. O Deus Criador põe Seu coração na miséria humana e vem participar dela. Não somente Seu coração está posto em nossa desgraça, mas Ele vem e assume em corpo a nossa desgraça. E isso começa com o Natal. O Natal é privilégio para os homens, mas é ultrajante para Deus. A humilhação de Jesus começa aqui. Seu nascimento é motivo de alegria para nós, mas é humilhante para Ele. Deixar Sua glória, abrir mão de Suas prerrogativas divinas para ficar enclausurado nas quatro paredes da limitação humana, não é algo próprio da divindade.

Mas não para por aí. Quando Ele Se humilhou ao vestir nossa carne, Ele veio também ao ventre de uma moça pobre, noiva de um trabalhador pobre, haja vista a oferta que eles levaram ao Templo, um casal de pombinhos e não um cordeiro. Ele veio ao mais baixo setor econômico da sociedade. Porque de onde Ele nascesse, Ele resgataria dali pra cima. Se fosse em classe média ou alta, somente dali pra cima haveria salvação. Por isso Paulo diz que Ele desceu às partes mais baixas da terra (Ef 4.9).

Mas Ele não parou Seu rebaixamento por aqui. Não nasceu entre médicos e parteiras. Não teve assistência, nem uma cama, nem mesmo uma casa. Para mostrar que Ele era a casa, nasceu fora de qualquer casa. O Criador, ao assumir Sua natureza humana não veio a nós dentro de uma casa, de um quarto requintado, nem mesmo de uma cama confortável. Desonrosamente, teve Seu primeiro contato com o oxigênio (como ser humano) num estábulo de animais. Seus primeiros suspiros Lhe traziam o odor de esterco! Natal é humilhação. É alegria porque o Salvador da humanidade devia ser homem. Mas nenhum homem estava em condições de ser um salvador. Por isso quando o Salvador Se faz homem, os homens deviam alegrar-se, pois ali chegava a solução do maior problema dos homens – o pecado. Mas para Ele, que veio resolver o problema, tudo isso era desconcertante! Mas Ele não Se importou. Ele queria vir ao mais baixo nível que existia para salvar o pior pecador...

Sua humilhação tinha que continuar. Embora todos achassem que Ele era apenas mais um homem, Ele mesmo sabia Quem era e de onde tinha vindo, mas devia permanecer calado sobre isso. Revelar apenas às ovelhas perdidas do Seu Pai. Não podia fazer propagandas para ser reconhecido, não podia Se ensoberbecer e Se revoltar contra as rejeições. Ao ser ameaçado ainda criança, teve que ser levado no colo de seus pais, que fugiram a pé, ou com algum animalzinho de carga para o Egito até que o perigo passasse. Cresceu no norte de Israel, entre os rejeitados. Não no sul, onde os aristocratas moravam e rejeitavam os do norte. Região da Galileia e não Judeia. Em Nazaré, entre as divisas das terras da Samaria, entre os rejeitados. Auxiliar de carpinteiro, trabalhou nisso até assumir Sua vocação, aos 30 anos.

Essa vergonha que o Criador passou como homem, continua ainda, porque vai até o rio Jordão, onde os pecadores eram batizados pelo Seu primo. Ele Se identifica com os pecadores quando Se batiza. Ele vai cumprir toda a justiça e para que ela se cumpra, Ele deve Se identificar com nossos pecados! Seu primo sabia que Ele era o Cordeiro que tira o pecado do mundo, mas não sabia de que maneira isso aconteceria. Por isso tenta impedir Seu batismo, visto que Ele não tinha pecado. Ele não sabia da identificação. Para salvar pecadores, Ele tinha que entrar na lama do pecado onde os pecadores estavam.

Mesmo assim, não parou de Se humilhar. O Espírito O leva ao deserto para ser tentado pelo diabo. Quando jejua 40 dias sente o que jamais havia sentido em toda a eternidade – fome! Estômago vazio, fraqueza física, quiçá tonturas e mal estar... uma grande oportunidade que Seu inimigo encontra para fazê-lo pegar um atalho. “Use Seu poder, resolva Seu problema”. Não. Ele não veio resolver Seu problema, Ele veio resolver o nosso problema! Não há atalhos, não há desvios, não se muda a rota nem o plano. E Ele sabe disso. Trilha o caminho pré-estabelecido pelo Pai com total submissão e dependência.

Sua humilhação continua, porque mesmo escolhendo discípulos, os reconhecidos rabinos não O reconhecem como Mestre. Exceto uns poucos que O reconheciam, mas ainda pelo motivo errado. Só pode ser de Deus se fizer sinais e milagres. Mas Ele não Se deixa levar pelas admirações erradas dos pecadores. Ele traz de volta o foco e diz que os homens precisam nascer de novo, senão não podem entrar no reino que Ele veio instalar. Seu primo, que agora estava preso, chega a cogitar que Ele não era o Esperado! Mas Ele manda um recado dizendo a João que bem-aventurado será aquele que não tropeçar nEle. Ele era a Pedra do Salmo 118.22. Rejeitada, humilhada, mas sem ela não haveria a maior construção de todos os tempos, a igreja! Não tropecem em Mim, dizia Ele aos judeus, senão vocês serão despedaçados e se Eu cair sobre vocês, pior ainda, serão reduzidos a pó. É melhor que nós caiamos sobre Ele do que Ele cair sobre nós! Os que caem sobre Ele estão construídos; os que Ele cai por cima estão destruídos!

Seus milagres faziam com que as multidões se maravilhassem. Mas eles entendiam errado. Ele não era um mágico que veio para entreter as pessoas. Seus sinais externos eram comprovações do que Ele podia fazer internamente no homem. Ao curar um enfermo, Ele estava dizendo que podia curar a alma também. Ao expulsar um espírito mau, Ele estava dizendo que o Senhor é Ele, até daquele que oprime o homem. Ao ressuscitar um morto, Ele estava dizendo que Ele é a verdadeira e eterna vida. Os demônios sabiam disso e, muitas vezes exclamavam com alta voz Sua identidade e Seu poder. Mas Ele os mandava calar. Não queria glamour, queria salvar. Ser reconhecido por demônios pode ser glória para nós, mas para Ele era cilada. As multidões maravilhadas com Seus prodígios não suportavam Seus sermões. Achavam duro Seu discurso e insuportável. E O abandonavam... Sua popularidade vai caindo quando os caçadores de milagres encontravam um paradoxo em Seu discurso. Como pode um homem com tanto poder não querer ser o nosso rei? Eles não sabiam que Ele veio para humilhação e Sua exaltação não podia ser própria. Tinha que ser proveniente do Pai. Qualquer que se exalta será humilhado, mas aquele que Se humilha será exaltado, dizia Ele, talvez pensando em Si mesmo.

Sua humilhação não para, porque ao entrar na cidade de Jerusalém, não escolhe um cavalo, nem pompas de um rei, mas um jumentinho e cumpre a profecia de Zc 9.9. Grande parte da multidão ainda tem uma esperança errada sobre Ele e coloca suas túnicas e mantos pelo chão, usam ramos para proclamarem “bendito o que vem em nome do Senhor”, mas com um coração político, manchado por vingança, querendo vindicar a honra do antigo povo de Israel, tão heroico nos tempos de Davi. E ali naquela cidade, mesmo tendo batido contra os mercadores no Templo, não atendeu a expectativa do povo que Lhe seguia. Debateu com as autoridades religiosas, expôs a podridão deles, angariou a antipatia de todos e foi abandonado quase que por completo. Mas Ele marchava para Seu plano, o de salvar os homens, inimigos de Deus, os que O rejeitavam, e este plano só poderia ser realizado com a mais dura pena, a morte!

Ele dá mais uma mostra de Sua humilhação quando lava os pés dos Seus discípulos. Ele veio para servir, não para ser servido. Somente servos lavavam os pés dos hóspedes. Ele é o Servo do Senhor que Isaías falou! O homem que acalmou tempestades, caminhou sobre as águas e foi transfigurado em glória está ali, na última ceia, olhando nos olhos do que O haveria de trair. Parte o pão dizendo que assim será feito com Seu corpo. Mas não tem problema. Ele é o pão partido que gerou o corpo místico, a igreja! Seu corpo rasgado e defeituoso na cruz produziu o corpo mais unido e perfeito de todos os tempos, o Corpo Espiritual de Cristo, Sua igreja, Seu complemento!

Ao orar, agoniado no jardim, sente Suas glândulas de suor se romper e sair filetes de sangue de Seus poros. Precisa do conforto de um anjo, pois Seus discípulos dormem... Disseram que jamais O abandonariam, mas Ele está ali só. Num tremendo confronto em experimentar a separação de Deus por nossa causa, Ele pede que o cálice Lhe seja afastado, mas enfim Se sujeita à vontade do Pai! Ali mesmo, naquela madrugada é preso pelos guardas do Templo, indicado pelo beijo de um dos Seus seguidores. Sua humilhação passa para o nível físico e moral, onde é torturado, espancado, flagelado e envergonhado. O homem que perdoou pecadores, publicanos e prostitutas, agora está exposto, nu e cabisbaixo perante o tribunal injusto e mancomunado de homens corruptos, que se colocam como juízes diante daquele que haverá de julgar os vivos e os mortos!

Passa por três tribunais, o dos judeus, o de Pilatos e o de Herodes. Os judeus inventam um pecado para Ele, Pilatos não vê nenhuma culpa nele e Herodes apenas escarnece. Ao ser entregue para os açoites, Sua carne é rasgada como sulcos feitos por um arado na terra... essas listas, todavia, são como trilhas que nos levam a Deus! Essas feridas são nossa cura! Esse castigo é a nossa paz! Os carrascos não sabiam por que O estavam surrando. Mas Ele sabia que a ira de Deus começava a manifestar-se sobre Si.

Sua humilhação vai ao mais baixo nível de condenação capital da época. Não bastava ser condenado à morte, tinha que ser a pior das mortes. A crucificação. Ele foi até lá para alcançar o morto mais decomposto da humanidade! Era uma morte onde se sente a chegada do fim passo a passo. Nada escapa, qualquer dor, toda respiração, olhos frente a frente com a morte que se aproxima lentamente. Ali, a própria morte tortura, pois carrega cada pedaço aos poucos. Que vergonha esse Natal... Que doloroso e angustiante! A alegria de salvação para os homens jamais seria imaginada custar todo esse preço! O sorriso dos pastores quando receberam a notícia do nascimento de Jesus, transforma-se em uma espada que traspassa a alma da mãe dele e a alma de todos os que começam a compreender que o Natal não é tão bonito assim... ali chegava o Salvador, mas aqui Ele opera a salvação! A manjedoura já era um sinal de que as coisas não iam terminar tão alegres! O que nasceu entre animais, morre entre ladrões! E para mostrar a que veio, ainda salva um deles na última hora.

A humilhação dele só termina dentro de um sepulcro. Deitado numa manjedoura Ele veio ao mundo e encerra Sua humilhação deitado debaixo de uma pedra. Seu corpo inerte dentro de uma tumba fria... quem imaginaria que o Criador pudesse ser parado e imobilizado pela morte? Por que nascer então? Porque Ele veio para morrer. E só poderia morrer se nascesse. O Natal apontava para a cruz. Ele só nasceu porque tinha que morrer. Tinha que se identificar com os homens e os homens nascem. Mas os homens nascem desejando viver e nada podem fazer contra a morte. Ele nasceu para morrer e a morte nada podia fazer contra Ele! Pois ressuscitou!

Ainda bem que o triste Natal termina na Páscoa! Cristo foi humilhado até o fundo do pior poço que jamais a mente humana imaginou. Deixou que tudo isso acontecesse e confiou que o Pai O exaltaria. E foi o que aconteceu! Ao terceiro dia, o Pai empregou todo Seu poder, força, energia, autoridade, domínio e soberania e arrancou Seu Filho das garras da humilhação! Elevou-O até às alturas celestes, os mais altos céus (Ef 4.10) e de lá, Ele enche todas as coisas! Ao subir, ele carrega também o cativeiro onde os homens se encontravam aprisionados. E concede dons a eles. Deus O colocou à Sua direita em um trono de glória. Toda Sua humilhação foi recompensada. Ele recebeu o nome que está acima de todo o nome. E ao nome dele se dobra todo o joelho de toda criatura, seja do céu, da terra ou de debaixo da terra. E toda língua proclama em uníssono que Ele é o Senhor para a glória de Deus Pai!

O Natal foi apenas o começo da humilhação de Cristo. Foi apenas o início da vergonha. O Natal é sem graça, mas Jesus trouxe a graça no meio dessa desgraça. O Natal é um paradoxo. Onde há vexame para o Criador, há alegria para os pecadores. O Natal nos mostra nossa grande salvação através de Sua grande humilhação.

“Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2Co 8.9).

Día tēs písteōs.


Pr. Cleilson

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