Teolatria

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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

EXISTEM APÓSTOLOS EM NOSSOS DIAS?



Por: Pr. Luiz Fernando


Entrou na igreja evangélica brasileira um modismo que não é novo. Algumas pessoas acham que descobriram a roda em pleno século XXI. As terminologias entraram e não foram questionadas, como se fossem verdades fundamentais da Palavra de Deus. O erro maior está em os líderes aceitarem sem questionar práticas e terminologias espúrias que são como ervas daninhas que aos poucos deturpam o evangelho. 

Quando líderes de expressão nacional aceitam chamar alguns de apóstolos, eles validam tal terminologia e aceitam como verdade aquilo que é errado e supérfluo. Tais líderes prestam um desserviço ao Reino de Deus. Dentre estas terminologias reinantes está a de apóstolos. Homens sem o mínimo necessário para desempenharem as funções pastorais, arrogam-se com títulos inócuos. Pessoas sem o menor preparo para a vida são apóstolos no século XXI. Precisamos lembrar que ser apóstolo hoje é impossível biblicamente. Mas antes de analisarmos biblicamente esse erro grotesco, vamos mergulhar um pouco na história recente da igreja. 

Tivemos em 1901 a chegada massiva do Movimento Pentecostal, que já vinha dando ar da sua graça a pelo menos 50 anos antes da virada do século XX. Em 1914, no início da 1ª Guerra Mundial, nasce a Assembleia de Deus nos Estados Unidos. Pessoas viveram experiências nunca antes vividas e a igreja ganha em dinamismo. Achava-se que isso era tudo o que tinha para acontecer dentro de séculos de cristianismo. Só que entre as décadas de 40 e 50 do século passado aparece um movimento que tenta restaurar a igreja. Esse movimento foi chamado de "Chuva Serôdia". Para este movimento não bastava uma experiência ou revestimento com o Espírito santo nos moldes pentecostais, deveria haver uma restauração da Igreja para que houvesse um mover de Deus sobre a terra. Daí enfatizarem a necessidade da restauração dos dons de Ef 4.11. Deveria haver restauração destes ministérios para que tudo fosse bem e viesse a chuva serôdia, a última chuva e depois o fim. 

Desse movimento surge na década de 70 outro movimento chamado "Discipulado". Na América Latina, seu grande expoente foi o Pr. Juan Carlos Ortiz, da Argentina. Pastores no Brasil deixaram suas igrejas para entrar nesse movimento. Acriticamente entraram de cabeça nesse ensino e tentaram mudar a estrutura da igreja brasileira. Como sempre acontece, a ação sem reflexão leva à paralisia da razão. Na Inglaterra, esse movimento instaurou a consagração de apóstolos, seguindo indicação de Deus, segundo eles. Nos Estados Unidos um expoente desse movimento apostólico foi Peter Wagner, ex-professor do Seminário Fuller e com ele outros assumiram essa postura. 

Esse pequeno histórico nos aponta que o atual movimento apostólico é bem recente, em termos de história, e segue os mesmos pressupostos do movimento "Chuva Serôdia", a saber, sem uma restauração da igreja ela não crescerá ou se imporá no mundo. Somente através dos apóstolos é que a igreja crescerá mais rapidamente. Somente através de ministérios apostólicos a unção de Deus estará presente e libertação acontecerá.

Creio que agora podemos analisar biblicamente este erro crasso que acontece na igreja contemporânea.

1 – Paulo, aos Efésios, descreve a construção da igreja. Enfatiza para os novos crentes que eles eram família de Deus e que pertenciam a um novo reino. Paulo usa a figura de um edifício para descrever a igreja e diz que o alicerce desse edifício são os apóstolos e profetas, tendo Cristo como a pedra angular.
Podemos tirar daqui nosso primeiro pressuposto. Apóstolos e profetas são alicerce e alicerce não se lança duas vezes. Uma vez colocado, todo o edifício é edificado sobre ele. Durante séculos Deus está construindo Seu templo santo, a igreja, e os fundamentos já foram lançados uma única vez. Termos apóstolos no séc.  XXI é lançar o alicerce outra vez, o que seria impossível ou mesmo desnecessário. Ninguém lança os alicerces de um edifício uma vez e depois o repete no 5º andar. Poderíamos perguntar como a igreja é edificada sobre o fundamento de apóstolos e profetas? Ela é edificada quando, nós pastores e líderes, pregamos sobre o que os apóstolos e profetas escreveram. Estamos assim, edificando sobre o fundamento deles. Quando o cânon (livros inspirados) do Novo Testamento foi fechado, nenhuma revelação tornou-se mais possível, pois os apóstolos e profetas de Ef 2.20 é que tinham autoridade de revelação final de Deus e já não existiam mais.

2 – O segundo pressuposto que podemos tirar daqui é que se existissem apóstolos no séc. XXI com a mesma autoridade dos primeiros, então nossa Bíblia estaria ainda em construção/formação, pois tais supostos apóstolos deteriam autoridade revelativa de Deus. Suas palavras deveriam ser gravadas e preservadas, porque algumas delas Deus usaria para estar no cânon. A Bíblia ainda estaria sendo escrita, em formação. Isso seria uma impossibilidade e um erro infantil. Em 2001 ocorreu, em Belo Horizonte, uma conferência profética, onde alguns líderes foram consagrados por supostos apóstolos. Não expresso aqui as palavras exatas, mas creio que não estou longe da verdade, pois, escrevo de memória. Na mesma conferência, a apóstola Valnice Milhomens afirmou que a idolatria entrou no Brasil quando os portugueses fincaram a cruz em terras brasileiras e realizaram a missa inicial. Em seguida o apóstolo Mike Shea afirmou que apesar dos portugueses terem trazido a igreja Católica para cá, ao fincarem a cruz em terras brasileiras o pais foi abençoado, pois a cruz simbolizava o cristianismo. Fiquei a me perguntar: Como pode em uma mesma conferência profética uma apóstola afirmar coisas contraditórias em relação a outro apóstolo que pertence à mesma coligação apostólica que a sua? Podemos concluir que esses supostos apóstolos do séc. XXI não existem.

A Bíblia descreve quais eram as características dos verdadeiros apóstolos:

1 – Segundo Atos 1.15-26 o apóstolo deveria ser alguém que houvesse acompanhado o Senhor Jesus durante todo Seu ministério. Em outras palavras, tinha de ser uma testemunha ocular do ministério e da ressurreição de Cristo. Por isso Paulo explica amplamente em suas cartas porque era apóstolo. Paulo recebera uma revelação especial de Cristo, daí ele afirmar que era como um abortivo, fora do tempo. Paulo era questionado por não ter estado com Cristo, por isso, ele quase sempre inicia suas cartas com afirmativa: “Paulo apóstolo de Jesus Cristo...” Isso por si só anula toda pretensão da existência de apóstolos no séc. XXI. Nenhum dos apóstolos atuais andou com Jesus. O teólogo católico Hans Kung afirma categoricamente que é impossível estabelecer sucessão apostólica para o estabelecimento de outros apóstolos ou bispos hoje em dia, como quer a igreja Católica Romana. Afirmação de um teólogo de dentro desta instituição, não é afirmação de um teólogo evangélico.

2 – Em II Cor. 12:12, Paulo apresenta as credencias do apostolado que são: “Sinais, prodígios e poderes miraculosos”. Não consigo ver ninguém com a mesma autoridade de Paulo e outros apóstolos no séc. XXI.

3 – Se alguém afirmar que seu apostolado não é igual ao dos primeiros apóstolos, pois não detém autoridade de revelação final da parte de Deus, mas somente autoridade inspirativa, cai em erro crasso, pois não há na Bíblia uma classe de sub apóstolos ou uma classe inferior de apostolado.

4 – Esse movimento apostólico atual consagra apóstolos à revelia. Querem criar uma rede de autoridade que só existe na cabeça de megalomaníacos. Alguém afirma: sou apóstolo do ministério de fulano de tal. Tal pessoa assume publicamente que ele é tudo menos o que diz ser. É mais provável que ele esteja assumindo sua ignorância bíblica e teológica.

5 - Creio que isso deveria bastar, pois, titulação não qualifica ninguém, nem torna ninguém mais importante diante de Deus. Essa busca por títulos somente expressa o vazio interior de quem não se encontrou no ministério pastoral. Tais pessoas alimentam a dúvida mortal se foram chamados ou não para o ministério. Querem um status que nunca alcançariam de outro modo a não ser por desvirtuamento bíblico e teológico. Querem ser vistos como pessoas especiais na sociedade e na obra de Deus. Não encontro na história da igreja ninguém que se destacou com essa volúpia de ser apóstolo. Lembro-me de Charles Haddon Spurgeon, o príncipe dos pregados, estava feliz em ser pastor de ovelhas. Não reconheço tais títulos em nosso meio.

6 – Exemplos de apóstolos no séc. XXI. Citarei alguns para não cansar muito.

6.1 – Apóstolo René Terra Nova (agora já é patriarca). Acredito ser um caso clinico fenomenal. O senso de megalomania é quase sem precedente. Ele afirmou, certa vez, que quem doasse R$ 10.000,00 receberia a unção de nobreza de Salomão. Então ser nobre custa R$ 10.000,00? Muito barato essa unção. Agora aparece com um avião para seu ministério. Veja os dizeres do tal apóstolo: "O Senhor é testemunha que este avião não é para vaidade, mas para estimular que outros ministérios também tenham aviões e, juntos, possamos voar para as nações da terra, pregando o evangelho de Jesus. Assim, está estabelecido". Fonte - Site oficial do apóstolo. Veja outra pérola do dignitário apóstolo: "Somos [sic] entre os quinhentos homens mais bem-sucedidos do Brasil que possuem um jato. A visão desatou novos líderes e milionários. Pastores e líderes que possuem casa, patrimônio, empresas e templos acima de milhões, o que fez ministérios e líderes milionários. Sabe por quê? Deixamos de ser tímidos, saímos dos decretos de morte e entramos no decreto de vida. Por isso, estamos ousando conquistar no sobrenatural". Fonte: Hermes Hernandes - http://hermesfernandes.blogspot.com/ ACREDITO QUE ESSE APÓSTOLO TEM COMPLEXO DE ÍCARO.

6.2 – Apóstola Valnice Milhomens. Afirmou publicamente que o Senhor Jesus voltaria em Setembro de 2007. Já se passaram cinco anos e nem ela mesma foi arrebatada. Erro elementar como esse não poderia pertencer ao repertório de um apóstolo, concordam? Há bem pouco tempo era uma defensora ardorosa do judaísmo dentro da igreja. Suas práticas eclesiásticas eram judaizantes. Músicas em hebraico, festas hebraicas, etc. Esqueceu-se de Hebreus que afirma que a velha aliança era sombra da nova aliança. Que Cristo estabeleceu uma aliança superior através de seu sangue.
O ministério apostólico no século XXI é cheio de profecias mirabolantes. Entre os apóstolos da chamada coligação, as profecias demoram meia hora, uma hora e assim vai. Só profetizam coisas a níveis globais. Apóstolos receberiam de Deus nações inteiras, meios de comunicações gigantescos, conquistariam os sete montes da sociedade, etc. Como se a obra de Deus vivesse disso.

"Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir". Martinho Lutero. 

Por abandonarmos a simplicidade da Palavra de Deus damos de cara com essas coisas grotescas. Segundo este modelo ministerial pastores que deveriam ser exemplos de humildade, singeleza, justiça, ética, modéstia e simplicidade tornam-se empresários de sucesso. Assim sendo, não possuem mais ovelhas e sim clientes e para clientes tudo deve ser feito para agradá-los. Quando começamos a agradar homens deixamos de ser profetas de Deus.

"O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos" (Os 4.6).

Precisamos nos humilhar diante de Deus. Precisamos nos arrepender de nossos pecados e clamarmos por misericórdia.

Uma reforma na igreja é urgente. Nosso melhor momento como igreja está passando.

Pr. Luiz Fernando é pastor da Igreja Batista da Aliança em BH/MG e autor do blog "Força para viver".

Dia tes písteos.

Pr. Cleilson

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